domingo, 17 de janeiro de 2010

TÚLIO MARAVILHA: "ESTOU COM A MESMA DISPOSIÇÃO"

Felipe Gurgel Repórter de Esportes
Quem esteve de passagem no último final de semana pelo Rio Grande do Norte, foi o veterano atacante Túlio Maravilha, ídolo do Botafogo/RJ na década de 90. O jogador participou do jogo amistoso entre o Potyguar de Currais Novos e o Santa Cruz, do interior do Estado, em homenagem aos 20 anos do clube do Seridó.

O três vezes artilheiro da série A do campeonato brasileiro, marcou o gol na derrota da equipe mandante, no estádio Coronel José Bezerra, que poderia ter sido o seu gol de número 900 na carreira de mais de 20 anos.

Nessa entrevista exclusiva a TRIBUNA DO NORTE, Túlio Maravilha falou um pouco de sua atuação como político (ele é vereador pelo PMDB na cidade de Goiânia), seu projeto de chegar aos 1.000 gols, sua vontade de encerrar a carreira no Botafogo/RJ, onde atingiu o auge da sua carreira, da possibilidade de defender o Potyguar na Copa do Brasil e das expectativas dele em relação ao Brasil na Copa do Mundo, que vai ser disputada esse ano na África do Sul.
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Veterano atacante esteve em Natal no último final de semana.
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Como foi essa passagem pelo Potyguar de Currais Novos?
Fiquei muito feliz em participar dessa festa. Infelizmente não conseguimos vencer no dia do jogo, mas o time do Potyguar é bom, mostrou qualidade e tem tudo para vencer o campeonato estadual. Fiquei muito impressionado com o Tiago Potiguar. Muito bom jogador. O garoto tem futuro. Fora que a cidade me acolheu muito bem. Fui muito bem tratado. Até uma réplica dos meus pés o pessoal daqui fez. Gostei muito de fazer parte do aniversário do clube.
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Existe a possibilidade de defender o Potyguar na Copa do Brasil?
Precisamos sentar e conversar sobre isso. Meu desejo é de jogar, mas, tenho que resolver com o Botafogo/DF, que é meu atual clube. Não acho que eles vão impedir, porque todos sabem do meu sonho de chegar aos 1.000 gols, e, preciso jogar para atingir essa marca. Mas, tudo depende das negociações. Ainda falta um mês para o primeiro jogo contra o Paysandu.
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Você está com 40 anos e ainda jogando. Como avalia sua carreira atualmente?
Posso lhe dizer traquilamente que estou com a mesma disposição e vontade de quando comecei, lá na década de 80, quando jogava pelo Goiás. Estou bem fisicamente e motivado em chegar aos 1.000 gols. Pretendo jogar até o final de 2011 para atingir essa marca histórica, que poucos jogadores conseguiram alcançar. Estou mais perto do que longe.
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Petkovic foi uma dos destaques do título Brasileiro no ano passado. O Corinthians/SP está contratando muitos jogadores acima dos 30 anos. Chegou a hora dos veteranos?
Olha só, as pessoas devem parar com esse preconceito com jogadores acima dos 30 anos. A idade não quer dizer nada. Se o jogador se cuidar, treinar direito, não viver na noite, não beber, nem fumar, pode jogar tranquilamente. Lógico que se perde alguma coisa relacionada com a parte física, mas, a qualidade faz a diferença. O Romário foi artilheiro do Brasileiro com mais de 35 anos, o Paolo Maldini, da Itália, jogou em alto nível até os 40 anos. Jogador veterano é igual a vinho: quanto mais velho, melhor, já que sabemos de todos os atalhos dentro do campo.
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Romário disse uma vez, que era muito fácil se destacar no futebol do Brasil pelo baixo nível técnico dos jogadores. Você concorda com ele?
O grande problema é que os melhores jogadores estão atuando fora do Brasil, e isso faz com que a qualidade técnica dos campeonatos daqui caiam um pouco. E, obviamente, o jogador que for acima da média, como ele foi, vai se destacar mais fácil. Creio que foi isso que ele quis dizer. Mas, na minha opinião, quem for bom, vai conseguir vencer em qualquer lugar. Fui artilheiro do Brasileiro da série A três vezes, da série B, da série C, e por quase todos os times por onde passei. Quem tiver qualidade, vai se destacar.Você foi ídolo de um time de grande história dentro do futebol brasileiro, e, hoje em dia, joga em times de pequena expressão.
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Tem saudade do Maracanã lotado?
Saudade eu tenho sim. Quem é que não vai sentir vontade de experimentar a sensação de ouvir um estádio como o Maracanã, lotado, gritando seu nome? Mas, isso já passou para mim. Hoje em dia tenho outras responsabilidades. Sou vereador em Goiânia, e não posso deixar a cidade. E gol, é gol em todo canto. Nunca vi campeonato que tivesse gol valendo por dois. Quero chegar aos mil e aqui fica mais fácil, já que pretendo marcar muitos amistosos até o final do ano para que posso me aproximar o máximo do gol e mil e terminar minha carreira como jogador, em 2011, atingindo essa meta.
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Você pensa como será o jogo que pode marcar o seu milésimo gol?
Já conversei com a direção do Botafogo/RJ e eles aceitaram a minha ideia de jogar pelo clube. Quando tiver faltando apenas dois gols para chegar aos mil, vamos organizar uma partida no Maracanã, para que meu sonho seja realizado, ainda mais com a camisa do clube que mais me identifiquei, que é o Glorioso.
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Como é ser um jogador-político? Atrapalha exercer duas funções?
Não. Consigo conciliar minhas duas atividades muito bem. Não tenho tantos jogos em Goiânia, e isso facilita na parte política. Consigo treinar com o time, viajar e, ao mesmo tempo, desenvolver meus projetos, sejam políticos, sejam particulares. Aí sim, depois de me aposentar, vou me dedicar de corpo e alma a vida política.
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Falando em projetos, você fundou a Instituição Maravilha. Qual a função dela?
O Instituto foi criado como forma de incentivar, apoiar e desenvolver ações para educação, defesa e melhoria da qualidade de vida dos jovens, por meio de atividades culturais, desportivas e ambiental. Como o Rio de Janeiro vai sediar os jogos Olímpicos em 2016, esse é o momento ideal de investir no esporte. Não podemos deixar essa oportunidade passar.
As crianças são o futuro do Brasil, e o esporte é um ótimo instrumento de inclusão e desenvolvimento. Podemos sim, ser uma potência olímpica. Basta querer. Mas, se eles não conseguirem sucesso no esporte, pelo menos estarão preparados para o mundo. Meu sonho é formar cidadãos preparados para a vida. Sempre fui muito obstinado em minha carreira como jogador, e sou assim como político também. Vou batalhar para que isso dê certo.
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Você foi companheiro de Dunga na época em que frequentava as listas da seleção brasileira (entre os anos de 1995 e 1996). O sucesso dele como treinador, foi uma surpresa para você?
O Dunga sempre foi um exemplo como jogador. Dentro de campo, mesmo com aquela sua imagem de um jogador cabeça quente, sempre orientava os jogadores, dava conselhos. Tinha certeza que ele ia se sair bem nessa nova profissão. Era só dar tempo para ele desenvolver seu trabalho que os resultados iriam aparecer, como está acontecendo.
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O Brasil tem chances de conquistar mais um título mundial?
Não só tem, como vai trazer mais um Copa para cá. Se os jogadores quiserem, tiverem a cabeça no lugar, iremos conquistar mais essa taça. Qualidade temos de sobra. O que falta é o desejo de vencer para alguns jogadores.
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Então, 2010 será um ano de muitos gols para Túlio Maravilha?
Com certeza. Vamos marcar muitos amistosos até o fim do ano para me aproximar o máximo do gol mil. Meu melhor ano foi em 1995, pelo Botafogo/RJ, quando marquei 63 gols, em 86 jogos oficiais. Se conseguir repetir esse feito em 2010, próximo ano alcanço a marca do gol mil e me aposento.
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Perfil
Túlio Maravilha começou sua carreira no Goiás, em 1988, com 18 anos de idade. Não demorou muito para mostrar seu faro de artilheiro. Foi o maior goleador do Campeonato Brasileiro de 1989, com 11 gols, vestindo a camisa alviverde.
O centroavante não ficou muito tempo no time de Goiás e foi vendido para o Sion, da Suíça, onde ficou até 1993, quando foi vendido para o Botafogo/RJ. Chegou como um desconhecido, e saiu como um dos maiores ídolos da história do clube.
Foi artilheiro três vezes do campeonato carioca e mais duas vezes artilheiro do Brasileiro, em 1994 e 1995. Apenas outros dois jogadores conseguiram sagrar-se o goleador máximo do Brasileiro em três oportunidades: Romário e Dario Maravilha.
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Seu auge foi a conquista do Campeonato Brasileiro com o Botafogo/RJ, em 1995. Foi nessa época que chegou a ser titular da Seleção Brasileira, na época, comandada por Zagallo. E, até hoje, tem uma das melhores médias de gols com a camisa da seleção, marcando 13 gols em 15 jogos. Em 1997, valorizado, foi defender o Corinthians/SP, dois anos depois. Mesmo na reserva, foi o artilheiro do time no campeonato paulista, que o alvinegro de São Paulo conquistou.
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Ao longo de 20 anos de carreira, Túlio defendeu mais de 20 clubes, entres eles, Vitória/BA, Fluminense/RJ e Cruzeiro/MG. Foi artilheiro da série C do Campeonato Brasileiro, São Caetano/SP e da série B pelo Vila Nova/GO. Este, em 2008, com 38 anos de idade.
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Hoje em dia, o jogador segue jogando por clubes de menor expressão, em busca de seu sonho de chegar aos mil gols na carreira, feito alcançado apenas por Pelé e Romário. Já defendeu inúmeras equipes do interior de Goiás, e, hoje em dia, além de ser vereador de Goiânia, defende as cores do Botafogo/DF, filial do xará carioca. “Gol é gol em todo campo. Nunca vi um gol valer por dois, por ter sido feito em um campeonato mais importante”, finalizou Túlio.

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