QUINTA FEIRA, 06 DE DEZEMBRO DE 2012.
Cerca de 2.000 jovens já foram
afastados da criminalidade através do esporte pelo projeto “Criança no Rumo
Certo”, na cidade de Currais Novos.
Localizada
a 180 quilômetros de Natal, a cidade de Currais Novos é famosa pelo mundo
devido à exportação de Scheelita, cujo ciclo teve seu auge entre as décadas de
1940 e 1990. Da terra onde brota este mineral, que é matéria-prima do Tungstênio,
também surgiu a desigualdade social e a criminalidade com o passar do tempo.
Mas graças ao projeto "Criança no Rumo Certo", hoje, surgem cidadãos
de bem através da prática do esporte.
O
responsável pela iniciativa é o professor Nilton César, que aos quatro anos
chegou à região do Seridó Potiguar para morar no bairro Dr. José Bezerra, mais
conhecido como Promorar. A região periférica tinha um dos índices de violência
mais altos de Currais Novos. Lá, Nilton viu seus amigos se envolverem com todos
os tipos de droga. Cansado dessa realidade, surgiu a ideia de tirar as crianças
do mau caminho em abril de 2002. Aqui sempre teve um alto consumo de
drogas. Meus amigos se tornaram viciados. Alguns já morreram e têm outros
presos. Vendo isso, me senti na obrigação de fazer alguma coisa. Tornei-me
presidente do conselho do bairro e criei o projeto - lembra o treinador de 38
anos, natural de Campo Redondo. Hoje, são cerca de 280 alunos
cadastrados. No turno da manhã, sempre às quartas-feiras, sextas e sábados, os
garotos jogam futebol no "Galvãozão", um campinho de terra, cuja
única sombra é do pé de algaroba. Debaixo da árvore e antes de cada treinamento,
Nilton comanda um bate-papo que ele prefere chamar de aconselhamento com a
garotada. Todo tipo de assunto é tratado e, até por isso, uma vez por mês
acontecem palestras com médicos, policiais, psicólogos, entre outros
profissionais convidados. Ao final dos treinos, a garotada faz fila para
receber o esperado copo de doce de leite, que não pode faltar. O campo
na verdade é o estacionamento do parque de vaquejadas. Uma vez por ano, o grupo
tem que procurar outro lugar para não parar o projeto durante a semana do
tradicional evento da cidade. Ambos os terrenos estão longe de ser o ideal. Há
apenas as traves e a marcação com cal. Qualquer chute dado faz rolar a bola,
levanta a poeira e leva junto as pedras soltas, mas, segundo o idealizador do
projeto, não é nada que desestimule seus alunos. Nunca recebi uma
reclamação desses meninos, seja porque o lanche vai ser sopa, a bola é de má
qualidade e o campo é de terra. É incrível como o esporte promove o bem. Não há
reclamações por parte dos meninos. Ao longo desses 10 anos, algumas
pessoas já apareceram para ajudar, mas apenas Nilton permaneceu desde o começo.
Entre os "Amigos do Projeto" estão uma panificadora da cidade, que
doa o lanche, e a prefeitura que começou colaborar, neste ano, com R$ 1.000
mensais, mas não paga há dois meses. A grande ajuda mesmo fica por conta
da família de Nilton. A esposa e as quatro filhas coordenam o núcleo feminino
do projeto. No turno da tarde, as meninas praticam handebol, vôlei, futsal e
queimada na quadra de uma escola do bairro.
Mais de
2.000 alunos já passaram em nossas mãos. E hoje tem gente casada, pai de
família, empregados... Atendemos crianças a partir dos oito anos, mas também
têm jovens com mais de 20 anos que nos procura. Por dados da Polícia Civil,
nessa idade que o projeto atende, os índices de ocorrência diminuíram -
comemora o coordenador. Usando a bola como ferramenta de transformação
social, a meta do Criança no Rumo Certo não é descobrir jogadores, e, sim,
fazer um trabalho de orientação. Por isso, o líder comunitário faz questão de
conversar com os pais dos alunos e procura saber como eles estão na escola. E
todo final de ano e aniversário do projeto organiza uma confraternização com os
jovens e suas famílias.
Memé já
foi aluno do projeto Rumo Certo e hoje
está no ABC (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)
está no ABC (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)
No
entanto, os meninos mais talentosos acabam se destacando. Foi o caso dos irmãos
Max e Memé. Ambos foram alunos durante a infância e neste ano jogaram pelo
Currais Novos Esporte Clube – treinado por Nilton César –, na segunda divisão
do Campeonato Potiguar de profissionais. O atacante Memé, de 19 anos, despertou
a atenção dos clubes de Natal, e está no sub-20 do ABC. Minha meta é continuar
esse projeto. Hoje é realidade em Currais Novos e tem sido importante para a
vida de muitos jovens e adolescentes. O que conta para mim é ver a
transformação de um aluno que chega como 'de risco' e melhora as notas da
escola, a relação com a família. Não tem nada melhor que participar da mudança
dessas pessoas - finaliza o professor Nilton César.
Por Matheus Magalhães Natal
Por Matheus Magalhães Natal