quarta-feira, 25 de junho de 2008

ENTREVISTA COM O ÁRBITRO MILTON OTAVIANO

ARBITRAGEM - 24-06-2008
O Curraisnovense Suelson de França, árbitro de futebol pertencente aos quadros da FNF e CBF mandou um e-mail com as seguintes informações:
Segue em anexo algumas informações sobre arbitragem e uma cópia da entrevista cedida pelo Milton Otaviano ao jornal Tribuna do Norte.
DEFINIDA ARBITRAGEM PARA AS SEMIFINAIS DA EUROCOPA

A Uefa divulgou nesta segunda-feira o trio de arbitragem para as semifinais e a grande final da Eurocopa. O árbitro da decisão do torneio, domingo, em Viena, será o italiano Roberto Rosetti, auxiliado pelos também italianos Alessandro Griselli e Paolo Calcagno. O quarto árbitro será o sueco Peter Fröjdfeldt.

O trio italiano em ação na final também trabalhou no jogo de abertura (vitória da República Tcheca sobre a Suíça, por 1 a 0) e no duelo entre Croácia e Turquia, pelas quartas-de-final, que terminou com vitória turca na disputa de pênaltis.
Para a semifinal entre Alemanha e Turquia, o trio de arbitragem será suíço: o árbitro Massimo Busacca e os auxiliares Mathias Arnett e Stephane Cuhat.
Já a semifinal entre Rússia e Espanha terá um trio belga: Frank de Bleeckere é o árbitro, com os bandeirinhas Peter Hermans e Alex Verstraeten.

24/06/2008 às 15:24
Teste físico e aprimoramento com árbitros e assistentes FIFA

Cumprindo as diretrizes de modernização aprovadas pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, a Comissão de Árbitros da CBF comunica estar finalizando a programação das atividades dos árbitros na Granja Comary, em Teresópolis.
No período de 16 a 22 de junho, 32 Árbitros e 32 Assistentes do Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe e Tocantins passaram por um intensivo aprimoramento prático, teórico e físico.
De 22 a 25 o mesmo trabalho está sendo feito com 16 Árbitros e 16 Assistentes de Goiás, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.
No dia 25 de junho, das 8 às 12 horas será a vez dos 10 Árbitros FIFA, 10 Assistentes FIFA e 10 árbitros Aspirantes-FIFA realizarem uma Avaliação Física, na pista de Atletismo do Estádio Célio de Barros, no Rio de Janeiro. Esta avaliação será supervisionada pela FIFA/CONMEBOL.
Após o teste e até dia 27 de junho, os convocados participarão de um treinamento especial, com presença dos Instrutores Internacionais, na Granja do Comary, finalizando o trabalho especializado.
ENTREVISTA com Milton Otaviano
15/06/2008 -

Milton Otaviano é o árbitro potiguar recordista de participação em jogos nacionais e internacionais.
Na carreira de 17 anos, que se encerra na atual temporada, quando vai completar 45 anos, ele guarda lembranças de várias participações em jogos decisivos. Além de participar dos dois jogos da recente decisão da Copa do Brasil entre Sport e Corinthians, ele possui em sua lista de jogos importantes participação na decisão da mesma competição em 1996 (Palmeiras x Cruzeiro), em 2002 (Corinthians x Brasiliense) e 2005 (Paulista x Fluminense).
No cartel de realizações ainda existe a participação da decisão da Super Copa dos Campeões entre Flamengo x São Paulo (2005) e a final da Copa João Havellange entre Vasco x São Caetano, em 2000.
Também é bom não deixar de fora as oito participações em jogos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1998 e 2002.
Aqui está um breve histórico da brilhante carreira desse potiguar que brilhou e honrou o nome do Rio Grande do Norte no cenário esportivo.
Quer saber um pouco mais, então confira a entrevista que ele concedeu à Tribuna do Norte.

Milton: ‘Nunca tive problemas com ninguém, Posso dizer que a arbitragem no RN é uma das melhores do país. "
O que levou você a escolher ser árbitro de futebol?
Eu sempre gostei de futebol, desde criança sempre estive envolvido com o esporte no campo de Nova Descoberta, bairro onde moro até hoje. Antes eu jogava, mas como era um goleiro ruim, aos poucos fui me arriscando a apitar algumas partidas, a coisa foi dando certo e me direcionei mesmo para área, quando fui convidado para entrar no quadro de árbitros da Liga Esportiva do bairro.
O passo a seguir foi buscar o curso de formação?
Não. Antes eu passei pelo Exército, servi no 16º Batalhão de Infantaria como sargento temporário. Lá costumava arbitrar as partidas dos jogos internos.
Só resolvi fazer o curso de preparação de árbitro em 1990, quando dei baixa das Forças Armadas. Isso foi em 1990.
Quem comandava a arbitragem estadual na época?
Era o falecido Jader Barbalho. Lembro que os meus instrutores de curso foram Wilson da Conceição e Antônio de Pádua Siqueira.
Você possui algumas profissão para ir tocando a vida junto com a arbitragem?
Não. Faz algum tempo que consigo viver apenas com que arrecado no futebol. Mas se a pessoas não for um profissional liberal fica difícil a pessoa aliar as duas coisas, ainda mais se for árbitro da Fifa.
Porque é difícil, não existe uma recomendação para o árbitro possuir um emprego fixo?
É melhor que tenha, mas não é obrigatório. Mas fica ruim aliar as duas coisas porque numa partida que você vai fazer fora do seu estado de origem, dependendo da distância, a pessoa é obrigada a se ausentar do emprego por pelo menos três dias. Assim não há patrão que ature perder um funcionário por tanto tempo. A não ser que seja uma pessoa muito compreensiva mesmo.
Hoje você atua como auxiliar de arbitragem, mas já chegou a ter alguma experiência como árbitro central?
Já sim, participei de muitas partidas como árbitro central. Lembro que a minha estréia como juiz principal ocorreu em 1992, no dia 4 de outubro e foi logo apitando um ABC e América.
Logo na estréia colocaram um osso desse?
Foi, tenho para mim que este serviu também como meu grande teste de fogo. Ali Jader Corrêa deve ter me escalado para saber se eu dava ou não para o ofício.
Então este possivelmente seria o jogo mais complicado da sua carreira?
Foi sim. Todos sabem que é complicado dirigir um clássico entre ABC e América. O jogo acabou 2 a 2, eu ainda expulsei um jogador de cada time: os zagueiros Vagner (ABC) e Carlos Mota (América) que andaram trocando tapas. Mas no fim a critica acabou sendo boa, os cronistas não apontaram falhas na arbitragem.
E como se deu essa transição, a partir de que ponto na carreira você optou em trabalhar apenas como auxiliar?
Em 1992, a Fifa decidiu criar um quadro de assistentes especializado. Em 93 a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu criar seu quadro de assistentes e pediu para que as federações estaduais indicassem cada uma um membro para realizar o curso de especialização na Granja Comary. Dessa turma ficaram apenas sete. Eu fui o indicado do Rio Grande do Norte para realizar o curso e em 95 fui convocado para compor o grupo de dez membros que a CBF colocou a disposição da Fifa.
Isso provocou uma mudança muito grande na sua carreira?
Mudou um bocado. Antes mesmo de concluir o curso que estava realizando no Rio de Janeiro comecei a ser escalado para trabalhar em partidas da primeira divisão. Lembro que nós saíamos da Granja Comary para participar dos jogos.
E qual foi o primeiro jogo que participou ocupando a nova função de auxiliar Fifa, ou seja, depois de formado?
O primeiro jogo que participei como assistente Fifa foi também em 1995, um amistoso que a Seleção Brasileira realizou contra a Eslováquia, em Fortaleza. Já faz um tempinho, mas se não me engano o Brasil venceu por 1 a 0 com um gol de Túlio. Tomara que a memória não me falhe! Mas se estiver errado alguém vai me corrigir.
Teve uma partida da Seleção Brasileira que você teve uma participação muito comentada, pelo fato de ter anulado um gol brasileiro, não foi?
Foi numa partida do Brasil contra a Holanda, o lance ocorreu do lado oposto ao meu, mas percebi quando Amoroso ajeitou a bola com o braço antes de fazer o gol. O juiz e o auxiliar que estavam encobertos não viram, mas eu alertei para irregularidade do lance e foi atendido. Na ocasião tive de entrar em campo para alertar o árbitro central.
Foi muito xingado por causa disso?
Por incrível que pareça não, só o Luxemburgo que era o treinador na época deu declarações lamentando o fato de um bandeirinha sair do Nordeste para anular um gol do Brasil em Goiânia. Mas a televisão mostrou que eu estava correto. Os jogadores brasileiros também não reclamaram, pois sabiam que o lance havia sido ilegal.
Tomando como base essas declarações de Luxemburgo, você sofreu muita discriminação dentro do futebol?
Absolutamente. No meio da arbitragem não nada do que reclamar, sempre me dei muito bem com os meus companheiros e eles sempre elogiaram o meu trabalho. O presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, Sérgio Corrêa, tem me valorizado bastante e a prova disso é que fui o assistente que mais trabalhou na Copa do Brasil. Participei de sete jogos, inclusive, das duas finais.
Esse ano você completa 45 anos e será obrigado a se desligar do quadro nacional e da Fifa, o prestígio pelo visto continua em alta, não?
Realmente não tenho do que reclamar, anos passado participei de 26 jogos incluindo as séries A, B, C e a Copa do Brasil, e por ter sido um dos três árbitros mais atuantes do país fui homenageado em maio último pela Associação Nacional de Árbitros de Futebol com o Apito de Ouro. O prêmio foi instituído esse ano e me senti muito honrado em fazer parte da turma dos primeiros homenageados.
Anteriormente tratamos sobre o tema da discriminação, mas aquele episódio envolvendo Edmundo e o árbitro cearense Dacildo Mourão, em Natal, quando o jogador falou aquela bobageira sobre “paraíba”, não foi uma discriminação?
Aquele foi, mas é um caso isolado. Os jogadores não são muito de discriminar ninguém, comigo sempre houve muito respeito. Graças a Deus nos meus 17 anos e trabalho no futebol nunca tive problemas com ninguém, só um ou outra reclamação sobre um lance, mas isso é normal.
O Caso Edilson na sua opinião maculou a imagem da arbitragem nacional?
Não. Este foi outro caso isolado, atingiu apenas a moral do envolvido no escândalo. O Paulo Danelon que chegou a ser citado no inquérito não teve nada provado contra ele. Ou seja o Edilson só fez mal a ele próprio. Depois acabou sobrando para o Armando Marques, que perdeu o cargo de presidente da Comissão de Arbitragem. Mas acho que isso serviu para dar uma resposta a sociedade, que cobrava a moralização do setor.
Já tentaram te comprar alguma vez?
Graças a Deus isso nunca ocorreu comigo, jamais tocaram nesse assunto perto de mim e nunca cheguei a escutar qualquer menção de proposta indecente.
E seus amigos de apito já chegaram a reclamar disso alguma vez?
Profissionalmente ninguém nunca comentou nada comigo. Sequer ouvi falar sobre alguma tentativa de suborno.
Como analisaria o nível de arbitragem local, estou falando do RN?
Posso dizer que a arbitragem do Rio Grande do Norte é uma das melhores do país. Se regionalizar me arrisco a dizer que somos a melhor. Nos testes de regra aplicados pela CBF ficamos em sexto lugar, nunca tivemos um representante reprovado nos testes físicos e na parte prática não se ouve por ai qualquer tipo de contestação sobre a arbitragem de um potiguar. Ninguém sequer foi suspenso pela Comissão de Arbitragem.
Você é o árbitro potiguar com maior participação em jogos nacionais e internacionais. Existe algum pessoal arquivo para comprovar isso?
Infelizmente não, eu possuía todas essas anotações mas acabei perdendo. Minha sobrinha brincando com isqueiro lá em casa, acabou ateando fogo em meu guarda-roupas, tudo que eu tinha: uniformes, anotações, roupas, tênis e sapatos; foi perdido. Para fazer isso agora serei obrigado a recorrer aos arquivos dos jornais, além de um trabalhão deve custar muito caro. É uma pena!
Como auxiliar da Fifa já participou de muitos jogos fora do Brasil?
Já sim, acho que na América do Sul, no caso no eixo do futebol, trabalhei em todos os países. Inclusive quando ocorreu o problema do incêndio no meu guarda-roupas foi justamente na véspera de uma viagem para Argentina. Dá para imaginar o sufoco que passei tentando arranjar os uniformes de trabalho, não dá?
E como foi apitar na Argentina, já chegou a participar de algum jogo na temida La Bombonera?
Já trabalhei em cinco partidas lá, dois jogos da seleção argentina e três válidos pela Libertadores. Dentre os quais um foi uma partida do Boca no La Bombonera. A arbitragem brasileira foi muito bem tratada no estádio, tanto na chegada quanto na saída. Não tivemos qualquer tipo de problema nas vezes que estivemos por lá. Achei tão legal que espero ter a oportunidade de ir mais vezes. Até dezembro quando vou deixar o quadro nacional e o da Fifa ainda terão partidas pelas Eliminatórias da Copa e também pela Copa Sul-americana.
Dizem que os árbitros brasileiros são diferentes dos demais. Existe mesmo isso?
Os comentaristas dizem que nós marcamos muitas faltas, mas quando não marcamos eles reclamam que estamos deixando o jogo correr demais e nos acusam de não coibir a violência. Mas a diferença que eles dizem existir ocorre pelo fato do jogador brasileiro ser muito habilidoso e predisposto ao drible. Em qualquer outro lugar do mundo, frente a marcação de um adversário o atleta procura tocar a bola para tentar escapar do assédio.
O brasileiro não, ele parte para cima do marcador para tentar o drible e acaba provocando um jogo de muito contato físico. Vem daí a explicação para o imenso número de faltas.
Então podemos concluir que é mais difícil se apitar no Brasil?
Certamente que sim, um árbitro que apita um Campeonato Brasileiro tem muita dificuldade, é difícil. Na Europa a característica da partida é de troca de passes, aqui os jogadores preferem encarar a marcação, além disso ainda existe a malandragem dos atletas. Por isso considero o árbitro brasileiro o melhor do mundo. Anos atrás tentaram trazer árbitros de fora para apitar jogos do Campeonato Paulista e a experiência não foi das melhores. Veja se a Federação Paulista não desistiu logo da idéia.
Então o que estaria havendo para haver esse reconhecimento, como existe em relação ao futebol?
Na minha opinião falta a profissionalização da categoria. Um árbitro brasileiro, diferente de um europeu, entra em campo hoje preocupado com um série de problemas. Quer dizer da forma como as coisas estão é difícil mantê-lo concentrado apenas no jogo, muitas vezes até por problema no emprego. Quando profissionalizarem a categoria acredito que o nível de arbitragem vai subir e melhorar bastante.