sexta-feira, 25 de maio de 2012

Porque queremos muitos outros “Duílios Martino” e “Airtons Fontenele”

25-05-2012 SEXTA FEIRA - Por José Renato Santiago.
Como torcedor de futebol e colecionador de revista sobre esportes em geral, nesta última semana adquiri algumas publicações especiais sobre o campeonato brasileiro de 2012 que se iniciou neste final de semana.
Não há como negar que houve um significativo aumento na oferta de publicações o que, teoricamente, é muito interessante ao público que compõe este mercado consumidor.

Quando era apenas um moleque, lembro bem que “as opções eram” quase que apenas a Revista Placar, se bem que durante alguns anos, ainda havia a Manchete Esportiva.

Hoje a quantidade é muito maior. A quantidade apenas, infelizmente.
Os guias especiais dos campeonatos brasileiros repetem anualmente os mesmos textos, conteúdos e estatísticas, que apenas são atualizadas ao final de cada competição realizada.

Lembro sempre alguns historiadores memoráveis e gostaria de destacar dois deles, saudoso Duílio Martino e o cearense Airton Silveira Fontenele, pessoas que sempre passearam pela minha memória de torcedor e historiador.

O "Dr. Duílio" como era chamado sempre foi considerado um dos maiores especialistas em seleção brasileira de futebol, uma verdadeira enciclopédia ambulante. Ainda tenho uma edição da revista Placar, nos anos de 1980, onde ele identificara um equívoco enorme da CBF.

Em 1982 como uma forma de homenagear o Furacão da Copa, Jairzinho, a CBF decidira contar com sua participação na partida amistosa da seleção Brasileira frente a seleção da Tchecoslováquia, a se realizar em 3 de março daquele ano no estádio do Morumbi. O argumento utilizado é que aquele seria o jogo de número 100 de Jairzinho vestindo a camisa da seleção canarinho.

Pois bem, não perguntaram ao Dr. Duílio, que logo veio a público, com levantamentos escritos em próprio punho afirmando que a homenagem era válida, mas que aquele não seria o centésimo jogo do Furacão.
Como esta, foram várias as contribuições dele, assim como de um cearense nascido na pequena cidade de Viçosa do Ceará, Airton Fontenele.

Leitor que era da seção de Cartas da revista Placar, ainda na década de 1970, seu nome era recorrente, sempre indicando correções sobre informações anteriormente publicadas de forma incorreta ou apresentando novos levantamentos e curiosidades.

Durante alguns anos “Seo Fontenele” chegou a ser fonte de pesquisa da própria FIFA, tamanha era a exatidão das informações que levantava.
É certamente um dos maiores contribuidores da mídia esportiva brasileira e até hoje delicia os ouvintes de programas de rádio da capital cearense, com curiosidades inéditas, diretamente de sua biblioteca particular a qual chama de “Sala João Saldanha”.

Hoje, embora tenhamos acesso as informações de forma rápida e tenhamos historiadores fantásticos, que não irei citar apenas para não cometer injustiça de esquecer alguém, nossas publicações esportivas ainda teimam em seguir o modelo mais fácil.

Informações iguais, curiosidades que já foram repetidas a exaustão e que justamente por isso não podem mais ser consideradas como curiosas e o que é pior, as mesmas fontes de sempre são utilizadas.
Para quem acompanha futebol, basta observar a presença frequente dos mesmos nomes em todas as publicações esportivas, principalmente quando consideramos edições especiais históricas.

Ao que parece há uma certa tendência a existir uma reserva de mercado, sempre os mesmos profissionais são chamados.
A história volta a se repetir, o que explica que nomes como o do “engenheiro Dr. Duílio” e o “dentista de formação Seo Fontenele” e a excelência de seus trabalhos no ramo esportivo sejam esquecidos para segundo plano.

Hoje ainda temos centenas de Duílios e Fonteneles espalhados pelo Brasil desenvolvendo pesquisas e estudos brilhantes e igualmente ignorados. Eles são considerados por muitos como apenas como “torcedores fanáticos” ou “apaixonados”.
Que sejam louvados todos aqueles que se dispõem a dar espaço a estes anônimos pesquisadores.
José Renato Santiago

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