Domingo, 03 de maio de 2020.
Conquistas de algumas
das principais equipes do Brasil rendem polêmica e muita discussão entre
torcedores e até mesmo federações.
A Copa Rio, de
Palmeiras e Fluminense; a Copa União do Flamengo; o Mundial de Clubes do
Corinthians em 2000... O valor de alguns títulos até hoje rende debates
acalorados entre torcedores. Entre reconhecimentos, imbróglios que chegaram à
Justiça passando por regulamentos mirabolantes, relembre algumas dessas
'polêmicas' do futebol.
O Expresso da Vitória,
emblemática equipe do Vasco que trazia nomes como Ademir de Menezes, Ely,
Chico, Maneca e Rafagnelli, foi representar o país no Torneio de Clubes Campeões
Sul-Americanos, disputado no Chile. Após derrotar o El Litoral (BOL), aplicar
goleadas por 4 a 1 sobre o Nacional (URU) e 4 a 0 sobre o Municipal (PER), um
empate em 1 a 1 com o Colo Colo deixou o Cruz-Maltino bem perto da conquista. Foto:
Lance! Galerias
Após um jogo acirrado
e nervoso (no qual o histórico goleiro Barbosa defendeu um pênalti), o Vasco
garantiu o empate em 0 a 0 contra "La Maquina" River Plate e se
sagrou campeão da competição. Décadas depois, a diretoria cruz-maltina pleiteou
na Conmebol que a competição tivesse seu nível equiparado ao da conquista da
Copa Libertadores. Em ata divulgada em 29 de abril de 1996, o Comitê Executivo
da entidade anunciou que "após analisar o pedido, resolveu aceitar o
reconhecimento do êxito esportivo e à sua verdade histórica". Além disto,
frisou que em 1997 o Vasco passaria a ter o direito de disputar a Supercopa dos
Campeões da Libertadores. Foto: Lance! Galerias.
O Palmeiras tem
Mundial? A Copa Rio, competição internacional com oito clubes (além do
Alviverde, Vasco, Juventus, Nacional-URU, Áustria Viena, Sporting, Nice e
Estrela Vermelha) tinha chancela do presidente da Fifa, Jules Rimet. O time de
Ventura Cambon superou a Velha Senhora, ao vencer por 1 a 0 no jogo de ida (com
gol de Rodrigues) e, no jogo decisivo, empatar em 2 a 2 (gols de Liminha e
Rodrigues, em duelos no Maracanã. À época, a imprensa paulista destacou os
atletas como "campeões mundiais". Em 2004, o Palmeiras entregou um
dossiê à Fifa pedindo o reconhecimento do título mundial. Foto: Lance! Galerias
Em 2007, o
secretário-geral da Fifa, Urs Linsi, enviou fax no qual "atestava"
que o Palmeiras era o primeiro campeão mundial (posteriormente ratificado pelo
presidente da entidade, Joseph Blatter). Contudo, anos depois, houve mudança de
posicionamento. Primeiramente, só eram "campeões do Mundial de Clubes a
partir de 2000". Após o reconhecimento de vencedores do Mundial
Interclubes, a Copa Rio do Palmeiras continuou a não ser reconhecido pela Fifa.
Foto: Lance! Galerias.
Em 1952, a Copa Rio
voltou a ser organizada pela CBD nos mesmos moldes e teve o Fluminense como
campeão. O Tricolor das Laranjeiras superou o Corinthians (outro representante
brasileiro) na final, ao vencer por 2 a 0 na ida e assegurar o empate em 2 a 2
no jogo da volta. Jornais de todo país na época indicaram a equipe de Castilho,
Orlando Pingo de Ouro, Didi e Telê Santana como "campeã do mundo". A
diretoria tricolor ficou de mandar um dossiê, mas não foi à frente. O
mandatário Gianni Infantino também ratificou que a Copa Rio não pode ser considerado
título mundial. Foto: Lance! Galerias.
A CBF inicialmente
colocava no panteão de campeões brasileiros quem conquistou os títulos das
edições de 1971 em diante. Entretanto, em 2009, seis clubes (Bahia, Botafogo,
Cruzeiro, Fluminense, Palmeiras e Santos) elaboraram um documento para que os
seus títulos em edições da Taça Brasil (disputada entre 1959 a 1968) e do
Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1967 a 1970) fossem reconhecidos como conquistas
nacionais. Foto: Lance! Galerias
A entidade achou o
pedido "factível", por "justiça histórica" e decidiu
unificar os títulos nacionais. A medida fez com que entre 1967 e 1970, houvesse
dois campeões brasileiros. O Palmeiras, que teve um ano de 1967 impecável ao
vencer a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, acrescentou dois
Brasileiros em seu currículo e é o maior vencedor da história: dez títulos. O
Santos, que também foi magistral na época de Pelé, Pepe, Coutinho e Mengálvio,
tem nove títulos. Foto: Lance! Galerias
O Botafogo publicou
três títulos mundiais em seu site oficial no início de abril. As conquistas são
da Pequena Taça do Mundo de 1967, 1968 e 1970, torneio triangular sediado em
Caracas, na Venezuela, que agora passam a ser considerados pelo Glorioso desta
forma. O clube estuda ir à Fifa pelo reconhecimento das conquistas. Foto: Lance! Galerias.
Um tricampeão estadual
em apenas dois anos? A curiosa conquista do Flamengo começou a se tornar
possível devido a uma mudança administrativa: com as fusões das FERJ e da
Federação Fluminense de Futebol (quatro anos após a fusão dos estados do Rio de
Janeiro e da Guanabara), inicialmente a Ferj bateu o martelo e criou o
Campeonato Estadual 1979 - Especial, que reuniria dez clubes (seis da capital e
quatro do interior) e, para não atropelar o Campeonato Brasileiro, duraria
entre fevereiro e abril. Foto: Lance! Galerias
O Rubro-Negro, que
vivia o início do ápice da sua era de ouro, chegou ao bicampeonato estadual de
forma invicta. Entretanto, a realização do Especial rendeu discórdia: oito
clubes que se sentiram excluídos do Especial pleitearam ao então presidente da
CBD, Heleno Nunes, a realização de um novo campeonato. O ano de 1979 teve nova
competição, com 18 equipes (um recorde). No primeiro turno, todos jogavam entre
si e, no segundo, existia a divisão de um grupo com oito equipes e outro com
dez times. Em novembro, o Flamengo de Zico, Junior, Andrade, Claudio Adão e
Julio Cesar conquistou mais um título e passou a ser convencionado que obteve
um "tri em dois anos"
Foto: Lance! Galerias
O imbróglio sobre o
vencedor do Campeonato Brasileiro de 1987 ultrapassou décadas, com direito a
guerra de liminares em diversas instâncias entre Flamengo e Sport
Após a confusa edição
de 1986 (marcada por viradas de mesa, inchaço e clubes entrando na Justiça
Comum), o presidente da CBF, Octávio Pinto Guimarães, declarou que a entidade
"não tinha condições financeiras de organizar a competição". A frase
foi o estopim para que as equipes de maior apelo no país fundassem o Clube dos
13 e rompessem com a entidade. Foto: Lance! Galerias
O Clube dos 13
organizou a Copa União com um inovador formato curto e envolvendo apenas 16
clubes de massa. Porém, os critérios adotados causaram discórdia: o finalista
de 1986, Guarani, e o semifinalista América foram colocados no Módulo Amarelo. Foto:
Lance! Galerias
Inicialmente, uma
reunião na Ferj na qual estava o dirigente do Vasco, Eurico Miranda, confirmou
o quadrangular final com o cruzamento dos módulos e previsto pela CBF. Contudo,
a rodada de estreia do Módulo Amarelo foi suspensa e gerou protesto encabeçado
pela Portuguesa contra a entidade e o Clube dos 13. A competição teve início,
com as equipes projetando o quadrangular. Foto: Lance! Galerias.
O Flamengo sagrou-se campeão da Copa
União ao derrotar o Internacional por 1 a 0, com gol de Bebeto, no Maracanã
(após empate em 1 a 1 no Beira-Rio). A conquista consagrou a equipe que tinha
Zico, Andrade, Leandro, Zé Carlos, Zinho, Leonardo e Renato Gaúcho. Foto:
Lance! Galerias
No mesmo dia, o Módulo
Amarelo terminou de maneira inusitada. Após ter perdido por 2 a 0 no jogo de
ida, o Sport se impôs e garantiu uma vitória por 3 a 0, resultado que forçou
uma prorrogação. O empate persistiu nos 30 minutos. A disputa de pênaltis
estava empatada em 11 a 11 quando cartolas das duas equipes entraram em campo e
decidiram encerrar a disputa (que já havia invadido o horário do "Show de
Calouros", programa exibido pelo SBT, detentor das transmissões). Posteriormente,
o Bugre abdicou do título, mas ambos estavam classificados para o quadrangular
final, de acordo com o regulamento previsto pela CBF. Foto: Lance! Galerias
Flamengo e
Internacional decidiram boicotar o quadrangular final. Com isto, Sport e
Guarani fizeram a final do Brasileiro de 1987 no início de 1988, nos moldes
planejados pela CBF. Após o empate em 1 a 1 em Campinas, Marco Antônio fez o
gol do título leonino na Ilha do Retiro na final. O Sport tinha como destaques
os meias Ribamar e Robertinho (ex-Flamengo), o atacante Nando, o lateral Zé
Carlos Macaé, o zagueiro Estevam, o veterano goleiro Leão e, curiosamente,
também contava com um meio-campista chamado Zico. Foto: Lance! Galerias.
Em 10 de fevereiro de
1988, o Sport entrou na Justiça Comum com ação pedindo reconhecimento do título
brasileiro de 1987. O caso foi transitado em julgado em 1994 e o STJ ratificou
a decisão. Pesou o fato de não haver unanimidade no Clube dos 13 sobre o
cruzamento dos módulos. Foto: Lance! Galerias.
Em 2011, a CBF
reconheceu os dois torneios como oficiais e abriu caminho para novas batalhas
na Justiça. A decisão foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017.
Inicialmente, o ministro Marco Aurélio Mello deu parecer favorável ao Sport.
Depois, o caso foi julgado na Primeira Turma. Por três votos a um, o título do
Campeonato Brasileiro de 1987 foi considerado que é exclusivamente do Leão. Foto:
Lance! Galerias
A interpretação no
regulamento do Campeonato Carioca de 1990 rendeu uma curiosíssima situação na
decisão entre Botafogo e Vasco. Em campo, Carlos Alberto Dias marcou o gol que
definiu a vitória por 1 a 0 dos alvinegros e, ao apito final, os botafoguenses
deram a volta olímpica com uma taça que a Rede Manchete ofereceu. Foto: Lance!
Galerias
No entanto, tanto Ferj
quanto dirigentes do Vasco interpretaram que, caso a equipe perdesse, haveria
uma prorrogação de 30 minutos para definir o campeão estadual. Passada meia
hora, os jogadores, a pedido do dirigente Eurico Miranda, também deram uma volta
olímpica, conduzindo uma caravela de papel presenteada por um torcedor que
estava na geral. Foto: Lance! Galerias
A polêmica chegou ao
fim no dia 9 de agosto. Por 7 votos a 1, o STJD considerou que o Botafogo era o
legítimo campeão carioca. Foto: Lance! Galerias
Outra discussão que
paira entre torcedores é sobre o Mundial de Clubes de 2000, realizado no
Brasil. A competição, com sedes no Rio de Janeiro e em São Paulo e realizada em
janeiro, foi a primeira a envolver representantes dos cinco continentes. Mas o
critério dos participantes tinha fórmulas discrepantes. Englobava
"vencedores" de 1998, como o Corinthians (país-sede como campeão
brasileiro), Vasco (campeão da Libertadores), Al Nassr (que triunfou na
Supercopa da Ásia) e Real Madrid (vencedor do Mundial Interclubes). E também os
campeões de 1999, como o Manchester United (da Liga dos Campeões), Necaxa (Liga
dos Campeões da Concacaf), South Melbourne (Liga dos Campeões da OFC) e Raja
Casablanca (vencedor da Liga dos Campeões da CAF)
No Maracanã, a final
envolveu Corinthians e Vasco. Após 120 minutos marcados por emoção e muito
equilíbrio, o empate em 0 a 0 persistiu e, nos pênaltis, o Timão sagrou-se
campeão. Porém, o formato do Mundial de Clubes seria momentaneamente
abandonado. Além de, em 2000, o Boca Juniors vencer o Real Madrid no Mundial
Interclubes, o formato com equipes de todos os continentes só voltou a ser
disputado em 2005, tentando evitar a presença de dois clubes do mesmo país. Foto: Lance! Galerias.
Por Lante.net