Domingo, 03 de maio de 2020.
Procurar por conteúdos
mais leves pode ser estratégia psicológica na quarentena, mas é preciso
equilibrar com doses de realidade.
Busca por notícias boas relacionadas ao coronavírus aumentou 100% entre fevereiro e abril. Foto: Nappy |
O surgimento de perfis nas redes sociais e seções em diversos veículos jornalísticos
dedicados exclusivamente às boas notícias apontam que
está em curso uma nova maneira de se consumir informação. Se, por
acaso, você já se pegou procurando por notícias boas
na internet durante a quarentena, saiba que não é o único.
Segundo dados do
Google Trends, entre os dias 16 de fevereiro e 18 de abril, foi
registrado um
aumento de 100% na busca pela a combinação dos termos “notícias boas” e
“coronavírus”.
A pandemia do novo
coronavírus tem deixado a web cada vez mais "faminta" por doses
diárias de otimismo. É a “dieta midiática”, termo usado pela estrategista
digital e doutora em comunicação Issaaf Karhawi para explicar o novo
comportamento. “Estamos em um momento sensível e é compreensível que sejam
adotadas leituras de escapismo para tentar lidar com tudo isso", diz.
“O aparecimento dessas
buscas e a forma como a gente lida com a pandemia mostram como construímos nossa
autonomia. Estamos diante de um sujeito mais ativo midiaticamente, que tem
maior capacidade de burlar o noticiário e construir outro discurso sobre o que
está acontecendo”, aponta a pesquisadora, que enxerga como positivo o
comportamento do usuário de controlar a quantidade e qualidade de informações
que chegam até ele.
De acordo com a
psicóloga Triana Portal, a atitude pode ser vista como uma forma de
enfrentamento psicológico da quarentena: “Com quase 2 meses de foco na
pandemia, percebemos que os tratamentos e manejo da doença vão mudando a todo
tempo. A ansiedade e o medo são comuns a todos e desesperar-se só leva ao
estresse, que por sua vez debilita o sistema imunológico.”
Nem tudo são flores
Embora vejam a nova
tendência de comportamento com otimismo, ambas as especialistas alertam que a
postura também pode ser alienadora se não for equilibrada com algumas doses de
realidade.
"Essas são
distorções cognitivas comuns em momentos de crise”, aponta a psicóloga. Já a
pesquisadora em comunicação chama atenção para a formação de bolhas de
preferência nas redes.
“Se eu busco notícias
boas, as redes sociais me devolvem mais do mesmo conteúdo, o que também é muito
grave e coloca em xeque a nossa relação com a diferença e o pensamento
crítico”, ressalta Issaaf. De acordo com ela, a responsabilidade pelo volume de
consumo midiático não está somente no usuário comum das redes. "Ainda
precisamos da mídia tradicional e até de influenciadores auxiliando nesse processo",
explica.
Por Nayara Fernandes, do R7 - TECNOLOGIA E CIÊNCIA
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