Sábado, 13 de fevereiro de 2021.
Empresa que controla
as equipes exige que negociações entre os times da marca sigam os valores do
mercado e que a vontade do jogador seja respeitada. Haaland escolheu atuar por
rival.
Por Danilo Sardinha —
Bragança Paulista, SP
Claudinho, do Bragantino, é o artilheiro do Brasileirão — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino |
Foi Claudinho começar
a se destacar no Brasileirão que a dúvida veio à tona: qual será o futuro do
meia-atacante do Red
Bull Bragantino, artilheiro isolado do torneio com 17 gols? Entre as
possibilidades, a ida para o RB Leipzig, da Alemanha, é tida por muitos como a
mais provável.
O motivo que faz as
pessoas acreditarem nessa transferência é o fato de Bragantino e Leipzig
serem geridos pela mesma empresa, a Red Bull. Mas não funciona exatamente
assim.
De acordo com apuração
do ge, no contrato com
o Bragantino não há uma cláusula que obrigue Claudinho a se transferir para o
time alemão ou qualquer outra equipe da empresa se houver proposta. Também não
está no vínculo que os times da marca têm prioridade para contratação.
Para Claudinho sair
do Bragantino, dois pontos são necessários:
- O clube interessado deve pagar a
multa rescisória ou o valor aceito pelo Bragantino;
- A proposta também precisa ser
aceita pelo jogador.
O Leipzig pode, sim,
ter interesse em contratar Claudinho. Mas, para conseguir a contratação, é
preciso preencher os dois requisitos acima. Ou seja, a negociação seguirá como
se fosse com qualquer outro clube.
É óbvio que a
proximidade entre as diretorias facilitaria um acordo. Mas esse não é fator
decisivo.
Até o momento, o
Leipzig ainda não formalizou uma proposta para contratar Claudinho. O atleta já
foi alvo de sondagens de outros times do exterior e do Brasil. O valor da multa
rescisória é mantido sob sigilo pelo Massa Bruta.
O desejo do clube de
Bragança Paulista é manter o máximo possível de uma base para os próximos anos.
A renovação de contrato com Claudinho até 2024 é uma prova disso. Caso chegue
uma proposta que agrade ao clube e o meia-atacante deseje sair, a passagem dele
pelo Braga pode terminar antes do fim do vínculo.
Quando questionado
sobre a possibilidade de sair do Bragantino, Claudinho tem dito que está focado
na disputa do Brasileirão, mas que só vai sair se for algo bom para ele e para
o clube.
Negociações entre
as equipes
Há uma norma interna
na empresa que exige que qualquer negociação entre equipes da marca deve
respeitar o valor de mercado do jogador. Por exemplo: se o preço de um atleta
do Bragantino for R$ 10 milhões, o Leipzig terá de pagar essa quantia se quiser
contratá-lo. Ou seja, não há o famoso "desconto".
Outro ponto importante
é a vontade do jogador, que não é obrigado a ir para outro time da empresa caso
as diretorias entrem em acordo. Um exemplo disso foi a negociação do atacante
norueguês Erling Haaland. Após se destacar pelo Salzburg, o atleta atraiu o
interesse do Leipzig e do Dortmund, ambos da Alemanha. O jogador preferiu
aceitar a proposta do Dortmund.
Os scouts das equipes
da empresa conversam entre si e trocam informações. Porém, não há uma obrigação
de buscar primeiramente reforços em times da marca. Se o Leipzig quiser
contratar um zagueiro, por exemplo, não precisa olhar primeiro os jogadores da
posição no "mercado interno". A escolha é livre e segue critérios técnicos.
No entanto, se houver
dois jogadores que se equivalem nas características pretendidas e com valor
igual, a preferência seria pelo atleta do time da empresa por causa da
facilidade para a negociação.
Os três times
principais controlados pela empresa, além do Salzburg, têm jogadores no elenco
que vieram de outra equipe da marca, de acordo com o site Transfermarkt.
O Bragantino, por
exemplo, possui o lateral-esquerdo Luan Cândido, emprestado pelo Leipzig, e o
atacante Luis Phelipe, emprestado pelo Salzburg. Veja abaixo:
- Bragantino: dois jogadores que vieram
de times da marca
- Leipzig: sete jogadores que vieram
de times da marca
- New York: um jogador que veio de
times da marca
- Salzburg: três jogadores que vieram
de times da marca
* Não foram contabilizados atletas que vieram dos "times B" de cada clube
O ge apurou que não há
hierarquia entre os times dentro da empresa, como um deles ser prioridade. Os
investimentos feitos em cada um, entretanto, são diferentes. O Leipzig, por
exemplo, recebe mais dinheiro por disputar a Bundesliga e a Champions League,
que são competições mais caras.
Luan Cândido pertence ao Leipzig e está emprestado ao Bragantino — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Os times da empresa
A Red Bull é uma
empresa austríaca de energético que investe em várias modalidades esportivas,
como Fórmula 1 e esportes radicais. No futebol, os três times principais
controlados são: RB Leipzig (Alemanha), New York Red Bulls (Estados Unidos) e
Red Bull Bragantino (Brasil).
Ainda existem outras
equipes da marca que são como "time B" dos três acima. No Brasil, há
o RB Brasil, que disputa o Campeonato Paulista da Série A2, e é como uma
extensão do Bragantino. Nos Estados Unidos, o grupo controla o New York Red
Bulls II e o New York Red Bulls Academy, equipes de transição do time principal
norte-americano.
O Salzburg (Áustria)
também era gerido pela empresa, mas deixou de ser quando Leipzig e ele foram
disputar pela primeira vez a Champions League no mesmo ano. Como uma empresa
não pode ter dois times no mesmo campeonato, a opção foi controlar apenas os
alemães.
Atualmente, a marca é
somente patrocinadora do Salzburg. No país austríaco ainda há o Liefering, time
B do Salzburg.
Troca de
experiências
Independentemente das
negociações, há cooperação entre os times da empresa. O RB Brasil, por exemplo,
costumava enviar alguns atletas da base para passar um período de treinos em
outras equipes do grupo. A prática, porém, esfriou nos últimos meses.
De acordo com o coordenador
técnico do Bragantino, Sandro Orlandelli, há troca de conhecimento entre as
equipes. Os encontros são em várias áreas, como preparação física, técnica e
nutricional. Não existe uma periodicidade estabelecida para as reuniões. As
conversas ocorrem conforme a necessidade ou quando um time quer compartilhar
algo que seja benéfico para os demais.
- São clubes
distintos, um não depende do outro. Isso é uma questão muito clara. Cada clube
tem a sua administração, sua gestão. Há uma troca de conhecimento onde todos
ganham. É conhecimento técnico que pode agregar a cada cultura. A cultura é uma
questão muito respeitada. A forma de jogar na Alemanha é uma forma. No Brasil,
é outra maneira. Isso temos que entender para não confundir as coisas. Nem
sempre o que é de fora é adaptável aqui - comentou Orlandelli.
Algumas
características a empresa pede que sejam adotadas por todas as equipes, como na
montagem dos times. Todos são formados por jovens atletas em virtude da
facilidade de se adaptar à filosofia de jogo.
- É a característica de jogo que nós temos, de sermos ofensivos. Tudo é um estímulo que precisamos de um tempo para adaptar o jogador. Jovens se adaptam mais a isso. Nossa característica é de jogar para frente sempre, independentemente se o adversário é um time gigante ou não - destacou Orlandelli.