Domingo, 25 de agosto de 2019.
Após dez anos de
estudos e testes, o Brasil está se
preparando para ser o único país do mundo a produzir o soro antiapílico –
contra múltiplas picadas de abelhas.
Os pesquisadores
responsáveis pelo projeto, Marcelo
Abrahão Strauch, do Instituto Vital Brazil (IVB), e Rui Seabra Ferreira Júnior, do Centro de Estudos de Venenos de
Animais Peçonhentos (Cevap) da Universidade Estadual Paulista, querem submeter,
ainda este ano, ao Ministério da Saúde e à Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), os relatórios com os resultados positivos alcançados nos
ensaios clínicos da primeira fase, que envolveram testes em 20 pessoas mordidas
por muitas abelhas.
A fase 3 de testes
será iniciada após a aprovação do ministério e da Anvisa e prevê o recrutamento
de 150 a 200 pessoas que tiveram múltiplas mordidas de abelhas, atendidas em 32
hospitais pertencentes à rede nacional de pesquisa pública.
Os resultados das
pesquisas farmacológicas com o soro antiapílico serão apresentados por Marcelo
Abrahão Strauch no Congresso Mundial de Toxinologia, que será realizado na
Argentina, em setembro.
A primeira fase
avaliou a segurança do produto, por se tratar de um medicamento novo, e o
ajuste de dose.
A fase 3 vai observar
a garantia da segurança e a eficácia do soro, disse Rui Ferreira Júnior, em
entrevista à Agência Brasil.
Caso tudo corra bem na
nova fase, a previsão é que o soro seja disponibilizado para a população entre
2021 e 2022. Após os ensaios da fase 3, os resultados serão novamente
submetidos à Anvisa, para que o registro do produto possa ser efetuado.
Envenenamento tóxico
Ferreira Júnior
esclareceu que o soro antiapílico será produzido pelo Instituto Vital Brazil,
órgão do governo fluminense.
De acordo com os
pesquisadores, o soro deve ser aplicado em casos de envenenamento tóxico, isto
é, quando a pessoa é vítima do ataque de um enxame.
Para os casos de
indivíduos alérgicos picados por uma única abelha, o tratamento é específico e
abrange medicamentos comuns.
O antídoto brasileiro
é inédito. Atualmente, há 45 produtores de soros para animais peçonhentos no
mundo, mas nenhum fabrica o soro para envenenamento tóxico por abelhas. “O
Brasil é pioneiro”, destacou Strauch.
Após ganhar o
registro, a disponibilização do soro será gratuita. “Hoje, todo tratamento de picada
de animal peçonhento só tem soro disponível na rede pública”, disse Marcelo
Strauch.
No Rio de Janeiro, o
polo de atendimento em caso de picadas de animais peçonhentos, como cobras,
escorpiões e abelhas, é encontrado no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na
Barra da Tijuca, zona oeste da capital.
Já o soro para
múltiplas picadas de abelhas também deverá ficar disponível no Hospital
Universitário Antonio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF),
localizado em Niterói, região metropolitana do Rio.
Rui Ferreira Júnior
lembrou que as pesquisas contaram com a colaboração do Laboratório de
Farmacologia das Toxinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que
realizou testes farmacológicos paralelos para avaliação do soro já produzido.
Acidentes
Segundo Strauch, a
abelha faz parte do grupo dos animais peçonhentos, que se caracterizam por
possuírem glândulas que produzem e secretam veneno.
Picadas múltiplas de
dezenas ou centenas de abelhas podem gerar intoxicação. Há casos de choque anafilático
que podem levar o paciente à morte.
“A letalidade é alta
por um ataque de múltiplas abelhas por causa da quantidade de veneno que o
paciente recebe e não tem o antídoto”.
A estimativa é que
ocorram cerca de 10 mil acidentes com picadas de abelhas por ano no Brasil.
Marcelo Strauch
avaliou que o número pode ser muito maior, tendo em vista as subnotificações. O
pesquisador afirmou que os acidentes por enxames de abelhas resultam em 40
óbitos notificados anualmente no Brasil.
O projeto contou ainda
com apoio do Ministério da Saúde, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro (Faperj)
Por Agência Brasil.