13-06-2010
Dunga partiu para o confronto aberto, escancarado com a imprensa. Pela primeira vez na história da seleção brasileira, desde 1914, três treinos foram fechados para jornalistas. Na atividade deste domingo (13) ele testou reservas que podem entrar na terça-feira (15), contra a Coreia do Norte, como Daniel Alves e Ramires.
De quatro treinos, três foram fechados. Dunga tem todo o apoio do presidente Ricardo Teixeira. Ele sabe da situação e deixa a critério do técnico. Até o diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, se mostrou surpreso com a atitude de Dunga. A decisão é uma retaliação à divulgação da discussão entre Daniel Alves e Júlio Baptista no treino de sexta-feira (11). O técnico gostaria de uma atitude mais patriótica.
Mas nem Rodrigo Paiva compreendeu a postura de Dunga!
- Antes de começar a Copa do Mundo, eu havia conversado com ele. Expliquei como eu acredito que tudo iria funcionar bem. Eu fiz a minha parte. Assim como o médico, o preparador físico e todos os outros profissionais que estão aqui na seleção. Eu trabalho aqui há nove anos e nunca tinha visto treinos fechados. Isso nunca aconteceu por aqui
Dunga está cumprindo da pior maneira possível o que prometeu ainda no Brasil. Respondendo a uma pergunta do R7 na coletiva de convocação, ainda no Rio de Janeiro, ele havia prometido que fecharia a sua seleção aqui na África.
- Eu peço desculpa aos torcedres, mas vocês ficarão sem notícias da seleção.
Ou seja: tudo o que está acontecendo foi de caso pensado.
O supervisor Américo Faria passa a Ricardo Teixeira tudo o que acontece na seleção brasileira. É evidente que ele sabe o que está acontecendo às vésperas da estreia do Brasil na Copa do Mundo. Ele lavou as mãos deixou a decisão para Dunga, de acordo com Rodrigo Paiva
- Ele faz o que quiser. É uma decisão técnica. O presidente não tem de interferir.
Dunga quer o clima de confronto com os jornalistas. Ele se considera injustiçado pela imprensa desde 1990, quando virou o símbolo da derrota da seleção de Lazaroni, na Itália. E agora chegou a hora da revanche. Há a possibilidade até de fechar todos os treinamentos. Só abrir para a imprensa 15 minutos na véspera dos jogos. E dar entrevista antes e depois das partidas. Isso porque a Fifa obriga.
Os integrantes da comissão técnica, médicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, roupeiros, até o chefe de cozinha não dão entrevistas. Ninguém tem certeza da verdadeira condição de Kaká, por exemplo. O médico José Luiz Runco e o preparador físico Paulo Paixão não querem contrariar o técnico.
- Já tem seleções que estão fazendo quase isso. A Argentina, por exemplo, que vocês tanto gostam faz assim.
A atitude rancorosa de Dunga tem consequências. Os onze patrocinadores da seleção brasileira pagam cerca de R$ 220 milhões por ano. E o evento em que eles teriam maior visibilidade seria a Copa. A possibilidade maior de mostrar suas marcas é nos treinamentos. Já que nas partidas isso é proibido. O treinador está indo contra quem paga os seus salários.
Mas ele não se mostra preocupado. Muito pelo contrário, até. Sem esforço, ele conseguiu convencer seus jogadores que esta é a fórmula ideal. É o caso do volante Ramires.
- Eu não vejo nada de errado nisso. Fazemos isso nos nossos clubes na Europa. Em Portugal, os treinos ficam fechados durante quase toda a semana. Só na véspera é que o clube deixa filmar 15 minutinhos de corrida. Muitas vezes nem isso.
O lateral-direito também apoia a postura de Dunga!
- Vamos respeitar o Dunga e a seleção. Ele sabe o que faz. Está buscando a tranquilidade para os jogadores.
Robinho tomou uma descompostura por ter dado uma entrevista na folga. Teve de pedir desculpas a todos os demais jogadores. A história vazou. E a CBF tentou o desmentido, mas os jornalistas que estão na África do Sul sabem que a história é verdadeira.
O Brasil trouxe para a África do Sul cerca de 600 jornalistas. Os veículos de comunicação preparavam uma supercobertura da Copa do Mundo. O acesso aos jogadores existia até Dunga assumir. Era possível conseguir uma entrevista exclusiva com quem quisesse. Bastava marcar com antecedência. Havia 'zona mista' todos os dias. Zona mista é passagem do time inteiro por um corredor. Os jornalistas teriam a chance de falar com os que desejassem ser entrevistados. A zona mista não existe mais.
Bastante tenso, Rodrigo Paiva disse que o acesso da imprensa aos jogadores está mais organizado!
- Vocês mesmos a chamavam de humilhante, um curral. Elogiavam a organização dos europeus. Está aí o que vocês queriam. Está tudo organizado como os europeus fazem
A tensão vem do fato de Dunga ter argumentos da própria imprensa brasileira para impedir o acesso dos jornalistas aos jogadores.
Dunga é maquiavélico. Ele quer travar os veículos de comunicação. Calá-los. E ele está a ponto de conseguir. Há quem trouxe para a Copa inúmeros jornalistas. Não há o que fazer. Repórteres mostram elefantes, leões, torcida, Nelson Mandela. Parece cobertura de turismo, não de Copa do Mundo. Tudo isso para aproveitar a viagem desses jornalistas à África. Mas as pautas estão acabando. A audiência caindo. É provável que vários jornalistas tenham de ser deslocados ou mesmo voltar para o Brasil. Dunga sabe disso. Os jornalistas estão tensos, revoltados. O clima é péssimo em Johannesburgo. Mas Rodrigo Paiva prega respeito às decisões do treinador.
- O que eu tinha de falar para o Dunga já falei na reunião antes da Copa. Agora é respeitar a hierarquia. Ele falou que os treinos estão fechados, ponto final.
Ele sabe que tudo ainda pode ficar muito pior...
Fonte: R7.com