Segunda feira, 12 de outubro de 2015.
Um ano esperado por
todos ligados ao futebol do Rio Grande do Norte foi um fiasco para o Estado.
Rebaixamento, tentativa frustrada de acesso e fora de qualquer divisão
nacional. Este foi o desempenho nacional de ABC, América e Alecrim em seus
centenários. Apenas o título Estadual amenizou o lado Alvirrubro.
Ano do centenário dos três principais
clubes do Rio Grande do Norte,
ABC, América e Alecrim tem pouco a
ser festejado e muito
a ser repensado para a temporada de
2016.
A temporada ruim do
futebol potiguar e de seus três principais clubes não perdoou nem os jovens
talentos. Os alvinegros e alvirrubros perderam as vagas na principal competição
das categorias de base brasileira, a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Palmeira
de Goianinha e Santa Cruz serão nossos representantes.
Se não bastasse o
desempenho pífio dos três clubes centenários, a organização do futebol local
mostrou fragilidade em 2015. O Campeonato Potiguar voltou a ter queda de
público. A média histórica baixou de 1.503 em 2015 para 1.240 este ano. Na
divisão que dá acesso à suposta "elite" do esporte
norte-rio-grandense a partida entre Atlético Potengi e Santa Cruz de Natal teve
a marca negativa de um pagante.
O "herói" virou tema de matéria na mídia local.
A piora qualitativa do
Estado é comprovadamente também por outros números. Segundo o site Futebol
Melhor ABC e América perderam sócios-torcedores em relação ao ano passado. O
Alvinegro teve menos 223 associados e o Alvirrubro uma retração de 1.074. A
"sangria" se deve ao desempenho em campo e o desastre nos gramados
resulta em perda entre associados, enfim um círculo vicioso que termina por
liquidar a combalidos economia de clubes que precisam melhorar a gestão. A
projeção indica que no fim do ano o América irá ocupar a 33ª colocação com
2.846 sócios e o ABC será o 37º com 2.159 sócios. Um exemplo clássico também
demonstra o caos que tomou conta do futebol potiguar na atual temporada. É
unânime, entre os especialistas, que para ter sucesso e garantir o futuro, os
clubes precisam investir em categorias de base, enfim serem formadores de
atleta. Nesta última semana, a Confederação Brasileira de Futebol divulgou a
lista dos clubes formadores e nenhuma das associações locais faz parte da
listagem. Na pratica, constar desse cadastro significa ter direito a reembolso
financeiro no valor de 200 vezes o valor do custo de formação do atleta; O
atleta fica impossibilitado de assinar o primeiro contrato de trabalho, sem a
autorização do clube formador; O clube que detém este selo, pode buscar apoio e
receita através de Leis de Incentivo ao Esporte, tanto nas esferas estaduais e
federais, além de verbas exclusivas do Governo Federal e, por fim, os atletas
poderão assinar contrato de formação a partir dos 14 anos de idade. Mas para
possuir o certificado, os clubes precisam ter no mínimo as seguintes estruturas
e serviços: Deve se modernizar e atender os requisitos da Lei Pelé, como por
exemplo, o fornecimento de acompanhamento pedagógico e psicológico dos atletas,
planos de saúde(médico e odontológico), seguro de vida e o registro no Conselho
Municipal da Criança e Adolescente; Ter bons profissionais, bom alojamento e
boa alimentação também são fundamentais. Sem o certificado, os clubes ficam
ainda mais expostos a atuação de empresários inescrupulosos. Se não bastasse
isso, enquanto os clubes potiguares "patinam na lama" , a Federação
Norte-rio-grandense gasta suas energias em uma luta contra o Governo do Estado
pela posse do estádio, ou o que sobrou dele, Juvenal Lamartine. Segundo a FNF,
o objetivo do embate seria o de preservar o passado do futebol local, mas, caso
uma mudança de rumo não seja tomada rapidamente o que entra em jogo, no
momento, é o futuro é não o passado. A Federação também montou "cavalo de
batalha" contra o poder público em outra área. Segundo a entidade, os
clubes deveriam, e mereciam, por serem geradores de emprego, ter apoio
financeiro das gestões municipais e estaduais. No entanto, apoiados pela gestão
federal, através de um patrocínio milionário da Caixa Econômica Federal e da
Lotomania, ABC e América não se mostraram eficientes para conseguir seus
objetivos. O fato aponta para a realidade que o problema talvez não esteja na
quantidade de recursos, mas sim na capacidade de geri-la. A própria FNF, que
recebe aportes mensais consideráveis da CBF não conseguiu fazer a manutenção
necessária no JL que está impossibilitado de receber pessoas. Se não bastasse
tudo isso, com o País afundado na crise econômica, a Prefeitura do Natal
anunciando cortes nos gastos e o Governo do Estado recorrendo ao fundo
previdenciário para pagar a folha salarial e outras despesas, é muito pouco
provável que para 2016 haja investimento público no futebol local. Para piorar,
o ABC, caso seja rebaixado, provavelmente perderá o patrocínio da Caixa, como
aconteceu com o América após a queda para Série C. O cenário ruim se complica
com as perspectivas do próximo ano no que diz respeito à falta de atrações que
possam movimentar financeiramente os clubes. Com exceção da Copa do Brasil, que
pode trazer a Natal clubes de médio e grande porte do eixo Rio-São Paulo
-Minas, os rivais de ABC, America e Alecrim, se limitam aos regionais. Para
completar, Roberto Fernandes deixou o Alvirrubro e Hélio dos Anjos, o
Alvinegro. É fato que, dependendo do desempenho dos clubes, por exemplo, na
Copa do Nordeste, que é rentável, o público tense a crescer. No entanto é certo
dizer que esse ganho não atinge a marca do patrocínio, nem tampouco dos valores
repassados dos direitos de transmissão de TV. Estes, além de serem rendas
garantidas, com as quais o clube pode realizar planejamento e inclusive
antecipações, agregam valor à sua marca. Contar apenas com a renda que vem das
bilheterias é conviver com incertezas, é aumentar a pressão sobre dirigentes
que precisam equilibrar seu tempo entre seus próprios negócios e interesses
empresariais ou políticos com clubes que, cada vez mais, precisam de atenção em
tempo integral e de gestões profissionais.
Por Magnus Nascimento – Tribuna do Norte (Natal).