SEGUNDA FEIRA, 08 DE ABRIL 2013.
O Riachuelo Atlético Clube, time que revelou para o mundo o maior
lateral-esquerdo do futebol brasileiro de todos os tempos, está de volta. Após
20 anos de inatividade, o mítico RAC – clube com história ligada à Base Naval
de Natal e que teve como grande ídolo a bruxa Marinho Chagas – vai se filiar
novamente à FNF para disputar o Campeonato Potiguar Sub-20 neste ano, mas já
tem como meta jogar o Estadual da categoria profissional do ano que vem e
voltar a incomodar, principalmente, a dupla ABC e América.
O
Riachuelo nunca foi um time vencedor de títulos no futebol do Rio Grande do
Norte, mas sempre carregou consigo um forte apelo histórico que permanece até
hoje, duas décadas após seu fim. Dono de um espontâneo carinho por parte dos
que viveram sua época, o RAC tinha até bem pouco tempo sua memória preservada
apenas na memória e nas rodas de conversa dos mais antigos, sendo sempre citado
como um exemplo de contraposição aos paradigmas do futebol nos anos de guerra,
mesmo sendo um time ligado as Força Armadas, já que tinha sede na Base Naval e
formado, naquela época, basicamente por militares e civis da Marinha.
Quem
percebeu tudo isso foi o segundo sargento fuzileiro naval e desportista Valdir
Duarte, carioca que tem história ligada ao futebol local desde 1989, quando foi
transferido para a capital potiguar e participou das direções do clube
Atlântico, Seleção do RN, Atlético Potiguar, CDF, dentre outros.
“De
tanto eu fazer pelos outros clubes, as pessoas diziam: ‘você é da Marinha,
então por que não fazer pelo nosso time?’ E tinha também o capitão Alen, que é
um gaúcho louco por futebol, que também tinha esse sonho de reimplantar o
Riachuelo, mas não via como. Daí ele procurou a federação e aconselharam ele a
me procurar”, conta Valdir. “Na primeira conversa a gente já se empolgou e ele
garantiu todo o apoio para a volta do clube”, completa.
O
próximo passou foi mergulhar numa pesquisa histórica para juntar o que ainda
restava de material na história do Riachuelo para, então, iniciar o trâmite
para reativar o clube. A pesquisa, segundo Valdir Duarte, foi árdua, porém
proveitosa. Além de, por exemplo, a ata da última reunião realizada pela
diretoria do RAC e o estatuto do clube, um grande tesouro foi achado pelo
desportista: “A vontade que as pessoas têm de ver de volta o Riachuelo. Várias
pessoas se emocionaram de verdade quando ficaram sabendo que a gente estava
querendo reativar o time”, ele conta.
O
apoio destas pessoas era o que faltava para a decisão de retomar as atividades
do Riachuelo fosse tomada. Depois de uma série de procedimentos burocráticos,
uma junta governativa que contou com a presença de um dos membros da última
diretoria do clube foi formada e elegeu Valdir como presidente do RAC.
Com
sede própria, estatuto sendo reformulado e diretoria composta, o próximo passo
agora é filiar novamente o clube à federação de futebol. Num primeiro momento,
apenas o time sub-20 será inscrito, mas os militares já iniciaram os trabalhos
para brigar pelo retorno do Riachuelo à elite do futebol nacional em 2014.
MARINHA!
A estrutura que o Riachuelo Atlético Clube irá dispor para treinar e jogar será
basicamente a mesma dos seus tempos de fundação: a Base Naval de Natal e o
Grupamento de Fuzileiros da Marinha. A diferença, claro, é o avanço tecnológico
e estrutural que veio junto com esses 65 que se passaram desde a fundação do
clube dos marinheiros.
Por
garantia da Marinha, o RAC terá à sua disposição três campos para treinamentos,
sendo um deles com dimensões oficiais para receber os jogos do time no
Campeonato Potiguar. Além disso, segundo Valdir Duarte, os militares cederão
departamento médico, área de lazer e alojamento para todos os jogadores,
inclusive os que irão disputar o Estadual Sub-20 neste ano.
A
nova diretoria do RAC é formada basicamente por militares da Marinha. Além de
Valdir, eleito presidente pela Junta Governativa, o vice-presidente do clube é
o tenente Alen e o diretor de futebol é o marítimo Getúlio Nunes dos Santos.
Ícone
do RAC, Marinho Chagas será o ‘relações públicas’
Marinho
Chagas foi a maior revelação e o maior ídolo da história do Riachuelo. Trocado
pelo clube por dez pares de chuteiras dados pelo ABC, o lateral-esquerdo que
ganhou projeção mundial agora vai retribuir a oportunidade dada quando ele
ainda tinha 15 anos e ingressou para o quadro de juvenis do RAC: será o
relações públicas do clube, emprestando sua imagem para abrir novamente as
portas do futebol para o Riachuelo.
Marinho
está feliz. Aos 61 anos e morando de frente para o mar da Praia do Meio, a
“bruxa” não esconde a empolgação pela volta do time por onde ele começou sua
caminhada no futebol. “Eu nunca esqueci do Riachuelo nem nunca vou esquecer na
minha vida”, diz.
Assim
como no seu tempo, Marinho diz que vai tentar fazer reviver o espírito do RAC,
que ficou conhecido pela disciplina de seus jogadores e pelo fato de usar a
mão-de-obra local para montar suas equipes. “Vamos montar um time caseiro e
jovem, que vai servir também como vitrine para estes jovens. Não vamos trazer
esse pessoal de fora, como ABC e América fazem. Teremos jogadores daqui mesmo,
da Marinha, e vamos fazer um time bom, time com padrão de jogo”, comenta o
ex-lateral.
Ele
também faz questão de ressaltar a importância do trabalho de base que está
sendo pensado pela nova diretoria do RAC, que pretende criar escolinhas para
crianças a partir dos sete anos de idade. “A gente tem que formar jogadores
nossos aqui. Jogadores de Natal mesmo, da região, para que sejam aproveitados
no Riachuelo. Tem que fazer como antigamente, que você primeiro olhava o que
tinha em casa e só depois partia para contratar alguém de fora. A ideia da
gente não é ficar trazendo jogador de outros estados, mas sim usar a força que
a gente tem por aqui”, diz.
O
fator histórico da volta do Riachuelo também é citado por Marinho como um
estímulo ao resgate da história do futebol local. Segundo ele, o renascimento
do Riachuelo pode ter um forte apelo entre desportistas ligados direta ou
indiretamente a outros times extintos do cenário futebolístico potiguar.“Essa
volta do Riachuelo vai ser muito boa para Natal e para o futebol. Acredito que
isso vai ser muito importante para todos nós e eu, inclusive, estou torcendo
muito para que voltem também Ferroviário, Atlético de João Machado e tantos
outros times. Essas aí são nossas raízes do futebol e a gente tem que sempre
valorizar”, salienta.
Clube
resgata história do futebol local!
Constituída
no mês passado, a diretoria do Riachuelo iniciou um trabalho de reconstituição
histórica do clube. A primeira ação do novo corpo diretivo, além de apresentar
a reinvenção do RAC, foi homenagear pessoas que entraram para a história do
clube.
Além
de diretores, alguns em homenagens póstumas, dois ex-jogadores receberam o
troféu de “Amigos do Rac”: Marinho Chagas e Ribamar Cavalcante. Este último,
desportista e pesquisador do futebol, acredita que a volta do Riachuelo pode
estimular o resgate dos times de Natal.
“Quem sabe não chega um empresário para seguir esse exemplo e refundar um
Atlético, um Santa Cruz”, espera Ribamar, que aponta o Riachuelo como o maior
entre os times tidos como menores em toda a história do futebol do RN. “Eu
fiquei muito feliz com essa volta do Riachuelo, ainda mais recebendo essa
homenagem da diretoria, ainda por cima junto com Marinho Chagas”.
Fonte:
Novo Jornal (Natal).