Sábado, 29 de agosto de 2020.
Com preço mais em
conta, facilidades de logística e conforto dos atletas, pelo menos 12 clubes
recorrem a pacotes privados. Bragantino, Flamengo, Palmeiras e Vasco fecharam cota fixa para toda a Série A.
Parece coisa de país e
de clubes ricos - o que está longe de ser o caso -, mas o Brasileiro 2020,
marcado pela pandemia e paralisação que forçou adiamento do início da
competição em 98 dias, tem um predicado a mais: é também o campeonato
dos voos fretados.
Pelo menos 12 times já
usaram do expediente nesta Série A. Nos casos de Atlético-MG, Bragantino,
Flamengo, Goiás, Palmeiras, Vasco e São Paulo, os clubes fecharam pacotes –
o Galo e o Tricolor paulista têm negociado com as companhias aéreas em pequenos
pacotes, mas os demais compraram com valor pré-determinado até o fim da Série
A.
Maior parte dos passageiros do Galo em fileiras separadas e distanciamento — Foto: Reprodução Galo TV
O voo do Galo: clube é um dos que investe em aviões fretados no Brasileiro — Foto: Reprodução Galo TV
O fretamento de voos
no futebol – e no esporte em geral - está longe de ser novidade. É comum que os
clubes decidam realizar maior investimento em reta final de competições, para
privilegiar a privacidade dos atletas, a recuperação física e também facilitar
a logística. O Grêmio, por exemplo, adota a prática desde 2016, no retorno de
Renato Portaluppi em jogos da Libertadores.
Mas a excepcionalidade
de 2020 levou a união de dois fatores e um complicador neste bolo: clubes
necessitados de melhorar logística com jogos de três em três dias e
isolar atletas de voos comerciais, com mais riscos de contaminação;
companhias aéreas com frota ociosa em aeroportos e queda livre de
demanda (em abril e maio, de acordo com a Associação Brasileira das
Empresas Aéreas, a queda foi de mais de 90% em comparação com os mesmos meses
de 2019).
O fator complicador? A
crise das companhias aéreas diminuiu a oferta de malha aérea para
capitais do país. Para viajar para Goiânia, o São Paulo teria que ir na
sexta de tarde e voltaria na segunda à tarde. Neste período, perde recuperação
de atletas, tempo para treino e gasta com alimentação, hospedagem e,
eventualmente, aluguel de campo.
Para se ter ideia,
voos domésticos levaram apenas 399 mil passageiros em abril deste ano. Em abril
de 2019, foram mais de 7 milhões transportados pelo país
Todo ano, a CBF,
através da empresa Pallas, fornece verba de logística, que comtempla,
normalmente, 33 pessoas – ou seja, 33 passagens. O pacote da CBF tem tabela
de voos que passa pela patrocinadora Gol (com desconto). No entanto, os clubes
sempre completam o restante para levar cerca de 40 pessoas em voos comerciais.
Neste Brasileiro, algumas companhias aéreas, como a Azul, ofereceram pacotes
econômicos.
O Vasco contabiliza
acréscimo de custo de R$ 480 mil pelo fechamento do pacote com a Azul por voo
fretado. O
vice-presidente de finanças do Vasco, Carlos Leão, explicou a operação e os
motivos da decisão do clube para oferecer este conforto aos jogadores – o que
permitiu ao clube levar até chef de cozinha e auxiliar do restaurante de São
Januário para viagens. Em média, R$ 33 mil por "perna" -
trajeto de voo (só ida).
- Tínhamos orçado R$
2.190 milhões pelas 16 rodadas de voos (menos os três clássicos com jogos no
Rio). Com os fretados vamos gastar R$ 2.670 milhões. Seria R$ 1 milhão a mais,
mas os voos fretados nos permitem economizar em hospedagem (já que voltamos
muitas vezes no mesmo dia), receptivo, alimentação... Então, nossa
conta é de R$ 480 mil de acréscimo de custo. Isso nos dá vantagem esportiva e
os jogadores ficaram muito satisfeitos – observa o dirigente vascaíno.
Chef de cozinha do Vasco (ao lado de Henrique) agora viaja e até faz parte da corrente no vestiário.
Foto: Reprodução Vasco TV
O vice de finanças do
Vasco lembrou que os profissionais de futebol iniciam recuperação de jogadores já
no avião em deslocamentos. O que seria impossível em voo comercial. O "voo
solo" também é útil para as equipes de comunicação que captam imagens dos
atletas nos ares como se estivessem em ônibus para chegada e saída de estádio.
Athletico,
Atlético-MG, Bragantino, Corinthians, Grêmio, Goiás, Flamengo, Fluminense,
Palmeiras, São Paulo, Sport e Vasco já usaram voos fretados neste Brasileiro
O ge procurou a Azul,
uma das empresas que ofereceu pacote para clubes, para falar dos valores. A
companhia aérea não abre os preços, mas um valor que pode chegar a R$ 60 mil
pode cair para quase a metade, dependendo do trajeto, é claro. Flamengo e
Vasco, por exemplo, pagam R$ 17 mil no fretado para ir a São Paulo. E
mais de R$ 100 mil para enfrentar um dos clubes nordestinos.
Bruno Henrique desce em Goiânia no voo do Flamengo — Foto: Reprodução Fla TV
Nem Botafogo e nem
Fluminense, por enquanto, fecharam pacotes. O São Paulo vai analisar a
logística rodada a rodada, mas já tem usado voos fretados – assim viajou para o
Rio de Janeiro para enfrentar o Vasco, por exemplo. O Tricolor das Laranjeiras
voltou de Curitiba de fretado para ganhar um dia de treino. Pagou R$ 40 mil. Em
Minas, o Galo também usou a Passaredo.
De volta à Série A
depois de 22 anos, o Bragantino, com aporte da multinacional Red
Bull, é um dos clubes que fechou pacote até o fim do Brasileiro.
Mas o presidente do Bragantino, Marcos Chedid, diz que o investimento
privilegiou, mais do que o conforto, a saúde dos atletas.
- Quanto menos tiverem
contato nos voos é melhor. Para eles e para aqueles que os acompanhassem -
lembrou, em referência a diferenças para voos comerciais. - É questão
de saúde e de segurança. No avião fretado podemos seguir os protocolos de
segurança da CBF - afirmou Marquinhos Chedid.
*Colaboraram
Eduardo Rodrigues, Felipe Zito, Guilherme Gonçalves, Guilherme Frossard e
Thiago Lima.Por Raphael Zarko* - GE