Quarta feira, 31 de outubro de 2019.
Jornalistas e torcedores ilustres do clube rubro-negro falam se jogadores
do time atual entrariam no esquadrão campeão sul-americano e mundial
A escalação Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior;
Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico foi uma fábula tão especial na
natureza do Flamengo que
o termo "Flamengo de 81", costumeiramente utilizado para se referir
ao maior time da história do clube, tornou-se algo quase que messiânico. Mesmo.
Até porque os onze, juntos, só entraram em campo em quatro oportunidades: três
vezes em 81 e uma em 82. Três vitórias (5 a 1 no Volta Redonda em novembro de
81, 3 a 0 no Liverpool em dezembro, 3 a 2 no São Paulo em fevereiro de 82) e
uma derrota (para o Vasco, de Roberto Dinamite, em novembro de 81).
Trinta e oito anos
depois, uma outra escalação de almanaque já entrou definitivamente no
imaginário rubro-negro. Afinal de contas, Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio,
Pablo Marí, Filipe Luís; William Arão; Gerson, Everton Ribeiro, Arrascaeta;
Bruno Henrique e Gabigol terão a missão de, no próximo dia 23 de novembro,
levar para a sala de troféus da Gávea a segunda Libertadores da América. Caso
saiam vencedores, vão se aproximar de um grande desejo do povo flamenguista,
reiterado semana após semana nas arquibancadas: voltar a vencer o Mundial de
Clubes.
Mas comparar os dois
times seria um pecado ou já é possível de fazê-lo, mesmo que o atual, de Jorge
Jesus, nada tenha conquistado de importante? Mais: algum jogador da equipe de
2019 teria vaga na de 81? Para isso, escutamos um grupo de jornalistas e
torcedores ilustres para tentar abrir uma discussão.
Dentro de várias
linhas de pensamento, uma norteou a opinião da maioria dos participantes:
tecnicamente, Gabigol até teria vaga em 1981; no entanto, o currículo de Nunes,
apelidado de "Artilheiro das Decisões" pelos momentos marcantes em
jogos decisivos, não pode ser esquecido.
- Gabigol,
tecnicamente, é melhor que o Nunes. Mas o lugar do Nunes na história, por tudo
que participou e resolveu, está intacto. O Gabigol pra ter essa importância
histórica terá que passar alguns anos no clube. Talvez ganhando Libertadores e
Mundial ele possa alcançar essa patamar. Tecnicamente, o Gabriel é mais
completo que o Nunes, tem mais fundamento. Mas, historicamente, o quanto o
Nunes representa e o que resolveu, sinceramente, acho que eu não substituiria
não - salienta Eduardo Monsanto, narrador da DAZN e autor do livro "1981,
o ano rubro-negro".
De qualquer forma, o
artilheiro do Flamengo em 2019, com 35 gols, e Bruno Henrique foram os
jogadores do elenco atual mais lembrados pelos participantes. Na Copa
Libertadores da América, a dupla tem feito a diferença no mata-mata: Gabigol
marcou contra Emelec (dois), Internacional (um) e Grêmio (dois); Bruno Henrique
contra Internacional (dois) e Grêmio (dois - um na ida e outro na volta).
- O atual time do
Flamengo está no mesmo nível técnico de 81. E os números provam isso. Eu acho
que o Gabigol entraria no lugar do Nunes. O Nunes tinha o Zico sempre o
colocando na cara do gol. Aí é covardia. O Gabigol não tem o Zico e é, como o
Nunes, extremamente oportunista. Ele me parece ser mais técnico. Ambos têm em
comum esse oportunismo, faro de gol. Claro que cada um à sua época - destaca
Sérgio Américo, repórter da rádio 94 FM.
Nos diferentes
argumentos que o ouvimos, o sambista Neguinho da Beija-Flor, intérprete oficial
da escola de samba Beija-Flor, lembrou um nome que, dentro da atual constelação
do Flamengo, não está entre os titulares: Diego. O meia, que é o capitão do
time, se lesionou logo no início da "Era Jesus" e voltou
recentemente. Outro ilustre torcedor rubro-negro, o cantor e compositor Ivo
Meirelles ficou na dúvida entre Gabigol e Nunes.
- Colocaria Diego
Alves no gol. O resto fica difícil pro time atual (risos). Talvez o Gabigol no
lugar do Nunes... mas talvez! O "João Danado" era matador também -
concluiu, sob risos.
As unanimidades e o
gênio
Na zaga, nas laterais
e no meio-campo estão as unanimidades. Leandro, Mozer, Junior, Andrade, Adílio
e Zico são os incontestáveis do time de 81 e não tiveram seus lugares ameaçados
na votação. O jornalista Juca Kfouri justifica que o grande ponto de
desequilíbrio na comparação é o Galinho. Pudera. Para muitos um dos maiores
jogadores brasileiros de todos os tempos, é o maior ídolo do Flamengo.
- (do time atual) Os
três atacantes teriam vaga, nenhum dos meio-campistas, nem dos laterais. No gol
e na dupla de zaga é "taco a taco". A diferença que desequilibra se
chama Zico.
O Flamengo de 2019 tem
uma vantagem que o de 1981 não teve: a oportunidade de vencer Campeonato
Brasileiro, Libertadores e Mundial de Clubes. Há 38 anos, o Rubro-Negro foi
eliminado pelo Botafogo nas quartas de final, ainda no primeiro semestre. O
Grêmio viria a se sagrar campeão, ao término daquela edição.
De acordo com Mauro
Cezar Pereira, comentarista dos canais ESPN, só o tempo irá possibilitar a
comparação entre as duas gerações. Por enquanto, na visão do jornalista, é
possível associar somente a confiança da torcida nos títulos.
Por
Lance.