Terça-feira, 28 de fevereiro de 2017.
Francis Koné, atacante
togolês de 26 anos, ganhou destaque em todo o mundo por um gesto que valeu uma
vida. Em jogo do Campeonato Tcheco entre sua equipe, o Slovacko, e o Bohemians
1950 ele impediu o goleiro adversário Martin Berkovec de se sufocar com a sua
própria língua durante uma convulsão e colocá-lo de lado.
O momento dramático,
que deixou desesperado atletas e torcedores foi encarado com naturalidade por
Koné. Em depoimento exclusivo ao UOL Esporte por telefone, o atleta detalhou o
resgate e contou outras experiências idênticas que teve em sua carreira.
"Esta foi a quarta
vez que aconteceu comigo. Foram duas na África e uma na Tailândia. Para falar a
verdade, esta foi uma das fáceis, apesar de todo mundo ter ficado muito assustado.
Eu estava na jogada e
quando teve o choque entre o goleiro e o zagueiro foi realmente muito forte. O
barulho foi assustador. Todo mundo saiu correndo para ver se o goleiro estava
bem. Eu já vi que ele estava inconsciente, sem nenhuma reação, com os olhos
virando e a boca ficando dura. Eu fui imediatamente abrir a boca dele para ver
como estava a língua.
Nestes momentos de
convulsão, a pessoa fica muito forte. Então coloquei as mãos dele sobre o peito
e sentei em cima para ele não me atingir. Coloquei ele de lado e comecei a
puxar a língua. A boca que estava seca começou a ficar molhada com saliva. Os
médicos chegaram e deram sequência ao tratamento.
Não tenho nenhum tipo
de curso médico, nem nunca li muito sobre o tema. A minha reação foi em
decorrência das minhas experiências mesmo. Na primeira vez que aconteceu, lá na
Costa do Marfim, eu fiquei assustado, pois nunca tinha acontecido algo do tipo
comigo. Mas fui e consegui ajudar.
Agora, a segunda
experiência, também na Costa do Marfim foi a mais perigosa de todas. Estava na
capital Abidjan em uma partida amistosa entre jogadores marfinenses e de outras
partes do mundo. Em um lance isolado, o atacante do outro time caiu no gramado
e bateu a cabeça com violência. Ele apagou na hora e todos acharam que ele
estava morto, começaram a chorar e ficar desesperados. Eu saí correndo com tudo
e fiz o mesmo procedimento, pois a língua estava bem enrolada. Acho que fiquei
uns três, cinco minutos com ele e tudo deu certo, graças a Deus! Por isso eu
digo que desta vez foi fácil.
Depois do jogo, eu
falei com a minha mãe e ela me disse que talvez Deus tenha reservado isso para
mim e que não foi a primeira, nem a última vez que acontecerá algo parecido.
O goleiro escreveu uma
mensagem para me agradecer, o pai dele veio falar comigo ainda nos vestiários e
muitas pessoas do Bohemians também disseram obrigado.
Mas eu não penso que eu
sou um herói. Faz parte do meu trabalho isso. Para mim, como um ser humano é
normal ajudar ao outro.
Sempre que eu entro em
campo, a primeira coisa que penso é no respeito ao próximo, à camisa que você
veste, ao seu oponente e ao fair play. Os três pontos, a bola são apenas coisas
materiais. A vida é muito mais importante.
Sei que minha imagem
está correndo o mundo, muitos jornalistas estão querendo falar comigo. Mas eu
digo: é algo normal. Agradeço a Deus e a Jesus."
Jogador diz que é fã de Ronaldo e já sofreu com racismo!
Koné ficou feliz ao
saber que estava falando com um jornalista brasileiro e até soltou um
"obrigado" quando atendeu à ligação. O atleta contou que apesar de
nunca ter visitado o Brasil tem uma relação especial com o país por causa de
sua idolatria por Ronaldo.
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Koné - Reprodução/Facebook
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"Meu ídolo e
herói é o Ronaldo. Mas Ronaldo Nazário, hein? Não Cristiano Ronaldo",
advertiu em tom de brincadeira.
Ele contou que na Copa
de 2002 até cortou o cabelo no estilo Cascão para homenagear o ídolo e todos os
amigos o passaram a chamar de Ronaldo.
"Tinha muitos
fotos dele, meus amigos na África só me chamavam assim. Meu sonho é conhecer
ele um dia", disse o atacante que já disputou duas partidas pela seleção
de Togo e defende o Slovacko desde a última temporada.
O jogador que passou
por clubes da Costa do Marfim, Libéria, Tailândia, Argélia, Omã e Hungria
afirmou que um dia gostaria de atuar no Brasil, mas sabe que é difícil.
Ele contou também que
assim como muitos outros negros, já teve de lidar com o racismo no futebol.
"Não é fácil para
jogadores negros do Brasil, da África. Estas coisas acontecem mesmo. Gritam
macaco, xingam e fazem de tudo para te desestabilizar. Ouvia cada coisa em
Portugal. Mas para mim racismo não existe. Isso é uma coisa de pessoas
ignorantes", completou.
De acordo com
especialistas, em casos de convulsão não é indicado esse tipo de procedimento,
como o de colocar objetos ou até mesmo o dedo na boca da pessoa. Um indivíduo
com crise convulsiva pode, inclusive, morder involuntariamente o dedo do
ajudante e machucá-lo.
Fonte: UOL Esporte Futebol.