Terça feira, 06 de abril de 2021.
Em todos os confrontos
das quartas, um dos times é dirigido por um técnico alemão.
Os confrontos das
quartas de final da Liga dos Campeões têm uma curiosa
semelhança. Em todos eles um dos times é dirigido por um técnico alemão.
Os treinadores do futebol tetracampeão mundial estão em alta por propostas de
jogo vistosas, arrojadas e extremamente ofensivas.
Não à toa, três deles
entram com leve favoritismo e o quarto tem enorme condição de surpreender. Há a
chance de as semifinais serem somente entre comandantes germânicos. Os dois
últimos campeões foram dirigidos por treinadores da Alemanha, que podem chegar
à 10.ª conquista na história da competição, igualando os espanhóis e ficando
atrás apenas de italianos, com 11 taças.
Os técnicos alemães
que estão na briga pela Liga dos Campeões são: Hans-Dieter Flick (Bayern
de Munique), Jürgen Klopp (Liverpool), Edin Terzic (Borussia
Dortmund) e Thomas Tuchel (Chelsea).
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Jürgen Klopp (Liverpool) - Divulgação / Liverpool |
O Bayern de Flick,
atual campeão de tudo, terá pela frente o Paris Saint-Germain, perigoso,
empolgado e com sede de vingança. O técnico espera levar a melhor sobre o bom
argentino Maurício Pochettino. Será um duelo com sentimento de revanche após os
alemães ganharem a final da edição passada por 1 a 0, frustrando os sonhos de
Neymar e Mbappé.
Apesar de o Bayern de
Flick jogar no 4-2-3-1 no papel, na maioria das vezes o que presenciamos é um
surpreendente e arriscado 3-2-5 e até 3-1-6. Apenas os zagueiros se mantêm mais
na defensiva. O time parece um rolo compressor, com os laterais Davies ou Alaba
e Pavard surgindo a todo instante como pontas, e os volantes Goretzka e Kimmich
se tornando meias por vezes. Com Gnabry, Coman ou Sané e Müller colados em
Lewandowski (desfalque de peso nas quartas de final por lesão), os gols surgem
a todo momento. É pressão na saída de bola, velocidade e muita gente atacando.
São 19 jogos de
invencibilidade do Bayern na Liga dos Campeões, com 18 vitórias, um empate e 69
gols anotados. Na atual edição, a média é de três bolas na rede por partida, o
que dá leve favoritismo aos poderosos campeões.
"(Esse destaque)
Acredito ser, principalmente, pelo tempo de trabalho, a continuidade que os
técnicos têm. Esse é o segredo. Claro que tem a metodologia de trabalho, a
agressividade, a intensidade, mas principalmente a continuidade que os
diretores de lá dão para eles realizarem seu trabalho", afirma ao Estadão
o técnico Jorginho, tetracampeão mundial com a seleção brasileira em 1994 e que
defendeu o Bayern de Munique como jogador.
O ex-atacante Paulo
Sérgio, de Corinthians e seleção brasileira, que atuou por quatro temporadas na
Alemanha defendendo Bayer Leverkusen e Bayern de Munique e hoje é comentarista
na RedeTV, também vê no tempo de preparação um diferencial dos treinadores do
país. "Sou até suspeito de falar, pois joguei lá e acompanhei bem de
perto. Eles sempre fazem um trabalho de médio e longo prazo com os técnicos e
isso faz os resultados aparecerem", diz. "Antigamente falavam que o
futebol alemão não era atrativo e hoje, muito pelo contrário, estão jogando bem
e bonito. Graças aos treinadores, que são bem preparados e cobram muita
determinação e um futebol vistoso de seus atletas."
O Liverpool de Jürgen
Kloop caiu muito de produtividade no Campeonato Inglês e acabou "deixando
de lado" a competição para se dedicar à Liga dos Campeões. Em busca do seu
segundo título europeu no clube - venceu em 2019 -, o treinador aposta em um
trio ofensivo e na velocidade em contragolpear.
Os Reds são
implacáveis como visitantes na atual edição, ganhando três dos quatro jogos que
usou os titulares. Despachou o Ajax na Holanda, fez 5 a 0 na Atalanta, na
Itália, e nas oitavas freou o ótimo RB Leipzig com contundente 2 a 0 na
Alemanha. E esperam repetir a dose na casa do Real Madrid, o maior campeão da
Liga, de Zinédine Zidane.
A rapidez de cruzar o
campo e balançar as redes dos rivais deve ser a tônica do jogo. Klopp é
especialista em contra-ataque. Jorginho vê Liverpool e Bayern de Munique como
os maiores candidatos ao título. "Pela continuidade, acaba, naturalmente,
com um ou outro tendo destaque maior. Klopp levou quatro anos para conquistar
um título no Liverpool, e Flick já vem há algum tempo como auxiliar na seleção,
no Bayern, e conseguiram agora desenvolver um trabalho com suas metodologias
nos treinamentos."
CONFIANÇA EM ALTA
Correndo por fora
aparecem outros dois alemães: Edin Terzic, do Borussia Dortmund, e Thomas
Tuchel, que sofreu apenas uma derrota desde que assumiu o Chelsea, há 15
partidas. Um terá a ingrata missão de tentar frear a boa fase do Manchester
City, enquanto o outro chega confiante diante do Porto, sobretudo pelo poder de
sua defesa.
Tuchel, vice-campeão
com o PSG ano passado e eleito o técnico de março na Inglaterra, quer levar o
Chelsea à segunda conquista da Europa. E, para isso, investe num esquema de
enorme marcação, eficácia no ataque e defesa intransponível. Desde que
substituiu o ídolo Frank Lampard, o alemão revolucionou os Azuis com muito papo
com todo o elenco, orientações táticas dos rivais e mudança no esquema do
4-2-3-1 para um seguro 3-4-2-1. Com o meio com mais peças, a equipe aumentou a
pressão aos oponentes e fica sempre mais perto do gol.
Atrás, sofrer gols
virou coisa rara. Ao longo das 10 vitórias, quatro empates e somente uma
derrota sob seu comando, o Chelsea foi vazado somente sete vezes. E estava
invicto com Tuchel até sábado, quando teve sua primeira derrota após ter o
brasileiro Thiago Silva expulso injustamente com apenas 29 minutos, em Stamford
Bridge, quando vencia por 1 a 0.
Para o treinador, um
"acidente de percurso" com erro de arbitragem. Quer que o time
esqueça o atípico 5 a 2 para o West Bromwich (não perdia do rival em seus
domínios desde 1979) e repita tudo de bom realizado nos outros 14 jogos. Como
os duelos com o Porto serão em campo neutro por causa da pandemia do novo
coronavírus, ambos em Sevilha, na Espanha, ele voltará a investir na tática de
marcar bem atrás e ser preciso na frente.
"Os treinadores
alemães vêm conseguindo resultados bons na Bundesliga e também na Europa graças
a suas táticas de cobrar empenho e jogo bonito", avalia Paulo Sérgio.
Edin Terzic assumiu um
instável Borussia Dortmund em dezembro de maneira interina. O torcedor do
clube, de 38 anos, tinha a missão de melhorar o desempenho do time, que não
embalava. Ele ainda sofre mas, avançou às quartas da Liga dos Campeões
despachando o Sevilla e está nas semifinais da Copa da Alemanha. No Alemão, em
quinto, briga por vaga à Liga de 2021/22.
Confiante nos gols de
Halland, o Dortmund investe pesado nas inversões de jogadas e na pressão
ofensiva imposta por Thorgan Hazard, Sancho e Brandt. Se tem um ataque
positivo, a defesa passará por uma grande teste diante do embalado e favorito
Manchester City de Pep Guardiola. Com oito gols sofridos em cinco jogos, Terzic
sabe que o setor terá de ser preciso para o time surpreender. O Estadão.