Sábado, 21 de dezembro de 2019.
Clube se acertou com
famílias de quatro dos dez mortos. Para além do que ocorrer contra Liverpool,
precisa fechar na volta a única ferida da temporada.
|
Momento pede que Fla se esforce nos acordos da maior tragédia de sua história. Foto: Ricardo Moraes / Reuters. |
O Flamengo tentará o
bicampeonato mundial de clubes contra o Liverpool, da Inglaterra, dono do
elenco considerado o melhor do mundo, às 14h30 deste sábado (21), em Doha, no
Qatar.
Quando a equipe
retornar ao Brasil, independentemente do resultado contra os Reds, seus
dirigentes deveriam aproveitar o final de um ano de belo futebol, grandes
conquistas e faturamento na casa do bilhão de reais para fechar definitivamente
a grande - e talvez única - ferida aberta na temporada: a conclusão das
indenizações de todas as famílias dos dez meninos entre 14 e 16 anos mortos no
incêndio de 8 de fevereiro de 2019 no Ninho do Urubu, na zona oeste do Rio de
Janeiro.
Muitos apressam-se em
condenar o rubro-negro e a defender que o clube faça chover dinheiro sobre
todas as famílias das vítimas sem pensamento, negociação ou questionamento. Em
boa parte desses casos há preocupação relevante. Mas em outra, considerável, a
gritaria não passa de discurso futebolístico mal disfarçado de compromisso
afetivo e social.
Mais do que
preocupados com pais e mães dos garotos, algumas penas e microfones adestrados
querem mesmo é sugerir uma maneira de abalar, pela amplificação do sentimento
de culpa, o cofre forte e o equilíbrio do hoje poderoso concorrente
rubro-negro.
Mas essa verdade não
retira, de forma alguma, a obrigação do Flamengo de aproveitar o momento para resolver a questão da maneira mais nobre e
rápida possível, se possível entre a virada de ano e os dias iniciais de
2020.
Sem prejuízo das
críticas às hesitações, é justo reconhecer que existe um trabalho legítimo do
Flamengo em busca de solução. Havia 26 adolescentes no Ninho naquela madrugada
triste. Dez morreram e três ficaram feridos. Quatro das dez famílias das
vítimas fatais e todos os sobreviventes feridos fecharam acordo de indenização,
remuneração mensal e tempo de cobertura sem a necessidade de processos
litigiosos.
|
Incêndio no Ninho do Urubu deixou dez adolescente mortos e três feridos. Foto: Lance.net. |
Mais precisamente, no
caso dos mortos, três famílias e meia. Parte de uma das quatro famílias
envolvidas nos acordos exige algo mais na Justiça, na única opção litigiosa de
parentes das vítimas contra o clube até agora. Todos os outros permanecem, ao
menos até o momento, em negociação, representados por seus advogados.
Enquanto esperam um
desfecho, seja ele acordado ou litigioso, todos recebem, segundo o clube,
valores mensais extrajudiciais, que o presidente do clube, Rodolfo Landim,
garante manter até que todos os casos tenham um fim. Dias atrás, o Ministério
Público registrou o pedido de que o Flamengo pague no mínimo R$ 10 mil a cada família
envolvida até a decisão final.
“Foi a maior tragédia
da nossa história. A dor dos familiares é incomparável, não há o que discutir,
mas nós também ainda sofremos muito no clube por causa dela. Não houve caso
semelhante no País, nos últimos tempos, em que a instituição envolvida tomou
tantas decisões, por conta própria, no curto espaço de tempo em que tomamos”,
defende-se Landim. “Não acho que um clube que age como estamos agindo mereça
ser taxado de negligente ou insensível. Nossas atitudes desde a tragédia
mostram que podemos ser quase tudo, menos dirigentes que não estão interessados
e mobilizados para resolver a situação”, acrescenta o presidente rubro-negro.
O Flamengo considera
que o fechamento dos próximos seis ou “seis acordos e meio” será mais um caso
de equilíbrio e bom senso do que propriamente de finanças. A ideia é a de que,
por mais doloroso que seja, o clube precisa ter agenda própria para questão, e
não a externa, imposta por pressões nem sempre (e em muitas situações quase
nunca) ligadas à preocupação com as famílias envolvidas.
Um ponto destacado por
negociadores e advogados do Flamengo envolvidos no caso é o de que o clube,
ainda que tenha condição, não pode aceitar das famílias ainda sem acordo um
pedido dez, vinte, várias vezes superior ao fechado com as quatro primeiras, a
pretexto de resolver o problema rapidamente e se livrar da pressão. Uma atitude
dessa, argumentam os representantes, desmoralizaria, antes de tudo, os próprios
travados anteriormente.
Mas, feitas as
ressalvas, permanece claro como a luz do sol que o Flamengo tem, no momento,
plenas condições políticas e, sobretudo, financeiras para fazer um esforço e se
acertar senão com todas, pelo menos com a quase totalidade dos familiares dos
dez meninos mortos.
Mesmo porque, se o
clube não conseguir fechar com todos nos próximos dias e semanas, o acerto com
a maioria chamará atenção para a possibilidade que a parte mais resistente a
posições razoáveis, entre todas as envolvidas na negociação, pode não ser a do
clube. Fonte: R7