Quarta feira, 21 de agosto de 2019.
A história do árbitro
potiguar que hoje viaja o mundo com a seleção brasileira de Ginástica Rítmica
começou de forma muito despretensiosa. O advogado Leonardo Palitot, que
recentemente foi o único árbitro brasileiro a arbitrar os Jogos Pan-Americanos
de Lima-Peru e que atualmente é o Coordenador Adjunto do Comitê Técnico da
modalidade, junto à Confederação Brasileira de Ginástica, iniciou sua paixão
pela Ginástica ainda nos tempos de escola, quando acompanhava os treinos da
irmã.
Ele precisa fazer uma
“verdadeira ginástica”, com perdão do trocadilho, para conciliar a intensa
agenda de advogado, sua atividade principal, e o trabalho como árbitro nos
campeonatos mundo afora. Leonardo só pode se dedicar ao esporte quando não há
conflito com a advocacia. Sorte que a maioria deles cai no fim de semana e,
assim, consegue dar conta de três paixões: a terceira é viajar!
“Ainda que nunca tenha sido o meu objetivo principal e que
jamais tivesse me passado pela cabeça ser árbitro para poder viajar, em
consequência da necessidade da missão, tive de passar a voar bastante. Sou
agraciado com a fantástica oportunidade de conhecer outros lugares, outras
pessoas e outras culturas”, explica.
Por causa da
ginástica, Leonardo já este nos seguintes países: Equador, Bulgária, Itália, Azerbaijão, Estados Unidos, Colômbia, Israel,
Espanha, Peru, sem falar da infinidade de viagens dentro do Brasil.
Tudo começou quando
era muito pequeno e estudava no Colégio Nossa Senhora das Neves, em Natal, que
tinha grande tradição na antiga GRD (atualmente o esporte só se chama GR). Ele
acompanhava os treinos da irmã, Amanda, mas depois acabou assistindo a todos os
outros, além das competições das amigas, o que o fez desde cedo formar uma base
de conhecimento sobre o esporte e diferenciar como era a forma correta de
executar todos os movimentos. “De tão próximo que me tornei da equipe e,
consequentemente, das professoras Hosana Matias e Andrea Dutra, que até hoje
são grandes amigas e a quem devo grande parte do que aprendi”.
A história como
árbitro só aconteceu mesmo em 2003, quando fazia o curso de Direito na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mas seguia acompanhando e
assistindo às competições da modalidade e frequentando os treinamentos quando
podia. A motivação veio após não concordar com os jogos escolares do estado em
2002. Resolveu então fazer o curso de arbitragem estadual, para o qual foi aprovado
em primeiro lugar e veio o convite para começar a arbitrar.
“Lembro que eu tinha,
na época, vergonha em razão de eu ser o único homem, mas o meu desejo de fazer
as coisas justas terminou falando mais alto e topei o desafio. E daí em diante
não consegui mais parar”, lembra.
Na Ginástica, após
cada Jogos Olímpicos mudam-se as regras, e se faz necessário que sejam
realizados novos cursos para que sejam outorgados novos brevets aos árbitros.
Pegando carona na mudança de ciclo após os Jogos de Athenas em 2004, foi
aprovado no curso nacional de arbitragem, realizado em Curitiba (PR). Meses
depois, fez o primeiro curso internacional, no Rio de Janeiro (RJ), e também
conseguiu a aprovação.
Em 2005, era o único
homem brasileiro com o brevet de árbitro internacional e um dos poucos no
mundo. “Confesso que enfrentei muitas barreiras por isso, às vezes não era
convocado para as competições por não ter com quem dividir o quarto ou
simplesmente era desencorajado por ser homem, sempre diziam que no esporte de
mulheres não havia espaço para mim”, recorda.
A partir daí, as
viagens ficaram cada vez mais constantes. Passou a conhecer muitas cidades e
estados do Brasil e também a ministrar cursos de arbitragem, fazer consultorias
e depois foi alçado à categoria de Diretor de Arbitragem da Federação
Norte-Riograndense de Ginástica, cargo que ocupa até hoje.
Após os Jogos
Olímpicos de Pequim 2008, no Curso Internacional do ciclo seguinte, foi
aprovado, junto com a hoje Coordenadora do Comitê Técnico de GR, Professora
Renata Teixeira, em primeiro lugar, o que abriu muitas portas e foi nesse ciclo
que pôde fazer as minhas primeiras arbitragens de Torneios Internacionais de
caráter amistoso e depois se uniu a outras pessoas da área para resgatar a
tradição brasileira na Ginástica Rítmica, o que ajudou na conquista brasileira
nos Pan-Americanos de Guadalajara 2011 e Toronto 2015.
Durante este tempo,
assistiu aos campeonatos mundiais de Montpellier, França, em 2011, e também ao
mundial de Stuttgart, Alemanha, em 2015. Também esteve presente na vitória do
Brasil em Toronto em 2015. Foram muitas idas e vindas a Aracaju (SE), local de
treinamento da seleção brasileira de Ginástica.
Após os Jogos
Olímpicos do Rio 2016, passou a desempenhar um papel oficial junto à CBG e é o
diretor de arbitragem das principais competições nacionais. Já quanto à
arbitragem internacional, após o Curso realizado em Guadalajara, Espanha, em
2017, foi aprovado com notas para a mais alta categoria de arbitragem
internacional, o que o credenciou a ter o maior brevet possível naquela
oportunidade. “Essa, sem dúvida, foi a maior conquista pessoal que obtive na
Ginástica, e a que me credenciou a poder atuar como árbitro nas competições
internacionais”.
Pelo feito, passou a
ser convocado para atuar como árbitro do Brasil nos principais eventos
internacionais. O primeiro campeonato mundial como árbitro foi em Sofia,
Bulgária, no ano passado. Recentemente, foi o único árbitro brasileiro a
arbitrar os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru.
“Com as viagens eu
pude ver que internacionalmente não há qualquer empecilho pelo fato de ser
homem, talvez isto seja até um ponto positivo. Aquela vergonha do passado,
desde há muito tempo que se transformou em orgulho. Enquanto for possível e eu
for útil aos propósitos do Brasil, desde que haja compatibilidade com meus
afazeres, espero poder seguir contribuindo para viajar para muitos outros
lugares representando o meu país”, finaliza.
Fonte:
agoraeuvoo