Sábado, 15 de agosto de 2015.
Mais de 30 anos
dedicados ao futebol e muitas histórias para contar. A vida de Ferdinando José
Araújo Teixeira, de 69 anos, certamente daria enredo para um bom livro. E um
dos capítulos, com certeza, seria sobre o Alecrim. Ex-técnico e professor
aposentado, ainda se emociona quando relembra o período em que vestiu, segundo
ele, com muito carinho e orgulho, a camisa do Verdão. Títulos importantes, como
o bicampeonato estadual em 1985 e 1986, enchem de orgulho o
"Professor", como era conhecido pelos jogadores e dirigentes.
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Ferdinando Teixeira, mais de 30
anos
dedicados ao futebol.
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Mas para começar a
contar a história de Ferdinando no Alecrim, devemos ir ao ano de 1974, quando o
então professor de Educação Física do antigo ETFRN (hoje IFRN) foi convidado
pelos dirigentes do clube para assumir o comando técnico da equipe, que se
preparava para o Campeonato Potiguar. Naquele tempo, Ferdinando confessa que já
era torcedor do Verdão, por conta do primeiro bicampeonato do clube, em 1963 e
1964, no ambos conquistados no Estádio Juvenal Lamartine.
LEIA MAIS
FOTOS: Confira ensaio da musa do centenário do AlecrimCom nome de bairro popular, Alecrim foi fundado no coração de Natal.
É uma relação de muito
carinho, de muito agradecimento. Eu já era torcedor do Alecrim desde 1964. Em
63 e 64 o Alecrim foi bicampeão no Juvenal Lamartine, e eu passei a torcer pelo
Alecrim, eu era meninão, garotão. O Alecrim me abriu as portas para o futebol,
essa é a realidade. Eu fui trabalhar um ano de graça, como estágio, para
aprender um pouco mais de futebol, porque eu já era professor na Escola Técnica
naquele tempo. Eu vinha do futsal e a direção me mandou fazer o futebol de
campo. Como eu não tinha muita experiência, fui para o Alecrim para aprender
como era o esporte, mesmo naquele tempo que é totalmente diferente do de hoje -
contou. Ferdinando conta que tanto ABC como América-RN, clubes que já haviam
conquistado mais títulos estaduais do que o Alecrim, não dariam uma
oportunidade para um recém-formado, chamado pelos dirigentes de "professor
de colégio". Em uma visita ao antigo estádio, usado atualmente para
competições de categorias amadores, Ferdinando lembrou dos dias em que assistiu
aos jogos ao lado do pai e, depois, de quando assumiu o comando técnico do
clube de coração. Naquele tempo, ABC e América-RN dificilmente abririam as
portas para um professor jovem, como diziam que era 'professor de colégio'. Por
isso, minha relação de muito carinho e de muito agradecimento pelo clube -
analisou. Ao término do estadual, Ferdinando deixou o Alecrim. Não para sempre.
Voltaria 11 anos depois, mais experiente, trazendo na bagagem um título conquistado
de forma impressionante. Venceu os três turnos do estadual.
Bicampeonato do Verdão
Em 1985, o Alecrim
montou um timaço para quebrar a hegemonia de ABC e América, que se revezavam no
posto mais alto entre os clubes potiguares. Para tanto, além do
"professor" para comandar o time, garimpou jogadores com perfis bem
distintos, mas que formaram uma seleção.
No primeiro título, a equipe era formada com César, Saraiva, Lúcio Sabiá, De Leon e Soares; Carlos Alberto, Didi
Duarte e Odilon; Curió, Freitas e Edmo. No ano seguinte, entraram Ronaldo
na zaga, Doca no meio-campo e Baíca no ataque.
Alecrim conquistou o segundo
bicampeonato
Potiguar em 1985 e 1986 (Foto: Reprodução)
Nós tínhamos muita
qualidade. Eu tinha dois ou três 'carregadores de piano' e o resto era de muita
qualidade. Esses três eram brutos, que chegavam firmes na bola, mas o restante
tinha muita qualidade, por isso que a gente fez aquilo tudo. Nessa hora,
prevaleceu a qualidade e o engajamento. Todo mundo se dispôs a participar para
ganhar, não era só para participar do campeonato - lembrou. Em 1985, o Alecrim
venceu o segundo e o terceiro turnos e foi para decisão contra o América-RN. O
placar acabou em 2 a 0 para o Verdão. Já em 86, os títulos do primeiro e
terceiro turnos levaram o time a mais uma final, desta vez contra o ABC. O
empate sem gols deu o bicampeonato ao clube alviverde. A conquista estadual
garantiu o clube no Campeonato Brasileiro da primeira divisão, mas a campanha
ruim, com seis derrotas, três empates e apenas uma vitória eliminou a equipe
potiguar da competição.
Ferdinando "dos outros"
A partir de 1987, Ferdinando
Teixeira passou por outros clubes nordestinos e chegou a treinar até um clube
do exterior, no Catar. Foi para o ABC e um ano depois para o América-RN, quando
conquistou o bicampeonato estadual, em 88 e 89. Ausente por quatro anos, de
1991 a 1994, voltou a trabalhar em 1995 no Potiguar de Mossoró, apenas no
primeiro turno, quando se transferiu para o ABC e conquistou o estadual. Em 96,
levantou a taça do primeiro turno pelo Alvinegro, mas se transferiu para o
América-RN no segundo turno, quando venceu a disputa e foi campeão geral. A
partir dos anos 2000, fez história no Fortaleza, onde passou quatro vezes.
Ainda treinou o Botafogo-PB, CSA/AL, Ceará, CRB/AL, Santa Cruz/PE, Campinense/PB
e o Al Arabi, do Catar.
Rebaixamento: mancha negra
Em 2009, o Alecrim
conquistou o acesso à Série C, em campanha que empolgou os torcedores no
Machadão. No ano seguinte, o objetivo era fazer ainda mais bonito. Ferdinando
foi chamado para o que seria a sua última passagem pelo Verdão. A expectativa
era brigar, pelo menos, pela classificação à segunda fase. Contudo, em oito
jogos, o time não conseguiu mostrar um bom rendimento - com duas vitórias,
quatro empates e duas derrotas. Na última rodada, mesmo com chance de avançar,
acabou na última colocação do grupo B por uma combinação de resultados e foi
rebaixado.
Alecrim empatou com o ABC, no antigo
Machadão,
em 2010 (Foto: Júnior Santos /
Tribuna do Norte).
A queda provocou uma
grave crise financeira ao clube, que já não era tão agradável. As contas
estavam tão apertadas que o próprio Ferdinando Teixeira trabalhou no clube de
graça, e ainda ajudou a compor a folha salarial dos jogadores. Para o
ex-treinador, o capítulo ficou marcado como a mancha negra no seu currículo.
Eu nunca tinha sido
rebaixado e fui rebaixado logo com o meu time de coração. Era um time que eu
estava ajudando a pagar para jogar, e eu estava trabalhando de graça. São as
coisas do futebol. Mas é a mancha negra que eu tenho na minha carreira
completa, não só no Alecrim. Quem vive no mundo do futebol, infelizmente, é
passível dessas coisas - concluiu.
Por Jocaff Souza/Natal