Em 1962, Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo (Foto: Reprodução)
Péris Ribeiro, amigo e
biógrafo; Amarildo, companheiro de time e Seleção Brasileira; José Inácio
Werneck, jornalista: trio dimensiona o ex-meia, que morreu há duas décadas.
Naquele dia seguinte,
a Folha de São Paulo o definiu como "um dos maiores jogadores de futebol
de todos os tempos". A Federação Internacional de História e Estatísticas
do Futebol (IFFHS) o coloca na seleção da América do Sul no Século XX e como o
sétimo maior jogador brasileiro do século passado. Num 12 de maio como este,
mas em 2001, Didi nos deixava. E levava com ele muito mais do que sua
"folha seca".
Cada adjetivo é pouco
para um craque de um tempo em que havia pouca tecnologia para disseminar os
lances e feitos do ex-meio-campista. E como ele se foi no início do milênio,
viveu pouco da época atual, na qual tantos registros são feitos
espontaneamente. Foram 72 anos de vida, mas uma vida para a história. História
contada também e tão bem por quem jogou com ele.
- Não penso que teve outro, na posição dele, que fez coisas melhores do
que as que ele fazia. Pode ser identificado como um dos melhores jogadores com
quem eu joguei e um dos melhores que vi. A técnica e inteligência que ele
tinha, ele usava ao máximo. Sempre foi positivo que ele foi participante de um
futebol maravilhoso. E quando ele deixou de jogar, deixou uma falta muito
grande - revela, ao LANCE!, Amarildo, o Possesso.
Didi nasceu Waldir Pereira, em Campos dos Goytacazes, no Norte do estado do
Rio, e se tornou ídolo do Fluminense. Teve três passagens pelo Botafogo, onde
também é ídolo, e ainda passou pelo Real Madrid. Na Espanha, a ciumeira de
Alfredo Di Stéfano lhe impediu vida longa. Mesmo assim, foram mais de 15 anos
no mais alto nível possível. Três Copas do Mundo, dois títulos de Mundial e
prêmio de melhor jogador do primeiro vencido pelo Brasil, o de 1958.
- Para se ter uma ideia, ele conseguia se destacar numa época (na Seleção
Brasileira) de Pelé e Garrincha, e no Botafogo também. No meio de toda uma
constelação, ele se impunha com a personalidade e pelo estilo, elegância e
visão de jogo... lançamentos de bolas de 40, 50 metros. O Gerson teve em quem
se inspirar - revela, também ao L!, José Inácio Werneck, jornalista
que viu Didi jogar.
Gerson, citado acima, é o Canhotinha de Ouro, que sempre se levanta quando fala
de seu professor. Não é pouco ter visto Didi jogar, como Werkeck viu. É um
privilégio tamanha a elegância com a qual Didi desfilava em campo. Nelson
Rodrigues o descrevia como um Príncipe Etíope. Aliás, o mesmo Nelson usava de
suas metáforas rodrigueanas para exaltar o meio-campista. Quem
lembra é Péris Ribeiro, jornalista, amigo e biógrafo de Didi.
- No Brasil, ele chegou a ser o jogador de maior salário. Tanto é que o Nelson
Rodrigues constantemente colocava que o Didi tomava banho numa banheira de
leite de cabra, como se fosse Cleópatra, e que o salário dele era maior que o
salário do presidente da república, que era o nosso JK, o Juscelino Kubitschek
- recordou, ao LANCE!.
Chamado de "Mestre" desde os tempos de jogador, teve na carreira de
treinador o momento de grande ganho financeiro. Levou - ou quase que ensinou -
o bom futebol por países como Turquia e Arábia Saudita. Fora o Peru, onde se
tornou "praticamente um Deus", de acordo com Péris Ribeiro.
Levou, inclusive, a seleção local a uma Copa do Mundo após 40 anos. A
eliminação foi para o Brasil. O Brasil de 1970.
Amarildo é 11 anos mais novo do que Didi. Bebeu bastante da fonte e, por isso,
entende que o sucesso à beira do gramado foi uma consequência.
- Não poderia ser outra coisa. A inteligência que ele tinha no futebol, como
jogador... ele era um conhecedor de qualidades - resumiu o Possesso.
Já o "folha seca" é o chute que foi batizado e virou marca. A bola
sobe e, com efeito, desce, como uma folha caindo de uma árvore. Efeito que se
tenta repetir hoje em dia corriqueiramente. E foi dele também o primeiro gol do
Maracanã.
Simples, elegante e soberano, o "príncipe" de Nelson Rodrigues era
amigo de gente importante, como João Havelange e o próprio JK. Péris Ribeiro,
que escreveu "Didi: o gênio da folha seca" (está na terceira edição),
entende que, se fosse vivo, Didi lamentaria mais do que veria beleza no mundo
da bola e no Planeta Terra.
- Acho que ele teria decepções com o mundo de maneira geral. Com relação ao
futebol, sim, e as exceções seriam o Zidane - ele sempre achava o Zidane muito
inteligente, um jogador altamente elegante, cerebral. Talvez não o visse, hoje,
como um grande técnico, mas, sim, aquele jogador que levou a experiência do
campo para o vestiário e tudo mais. E o Pep Guardiola, esse sim, um grande
treinador - avalia Péris. E completa:
- Jogador (atual) eu creio que ele se limitaria a (gostar do) Messi. E a
situação do mundo, hoje, seria de alta decepção e muita preocupação com relação
ao caos que a gente passa, em todos os sentidos - pondera.
Meia de um tempo com
mais espaço para a arte, Didi vestiu muitas vezes a camisa 8. Lançava mais do
que fazia ele os gols. Mais atrás no caminho do gol, lhe cabia por vezes o
combate. Mas Amarildo alerta.
- O Didi não precisava ser marcador. Ele que era marcado. Porque eu penso que,
pela qualidade que o time também tinha, essa coisa de marcação... mas ele
estava sempre no posto justo, sem ter que dar paulada, fazer falta. Ele jogava.
Os outros é que tinham preocupação - lembrou o ex-atacante.
Entendedor de vinho, fã do poeta chileno Pablo Neruda, com quem chegou a
conversar. Era a excelência personificada. Quando se foi, Didi deixou Guiomar
às vésperas dos 50 anos de casamento do casal. Ela se juntou a ele um mês
depois. Por lance.com.br
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