Domingo, 07 de março de 2021.
Técnicos estarão à beira do campo na decisão da Copa do Brasil (Fotos: Cesar Greco / Lucas Uebel)
Não existe um duelo de
técnicos na decisão da Copa do Brasil no Allianz Parque. O personagem desse
jogo, perdendo ou ganhando, é um só, tem nome e sobrenome: Renato Portaluppi.
O gaúcho de Guaporé
constrói uma história única no futebol brasileiro. No comando do Grêmio desde
2016, ao renovar essa semana o contrato até o final de 2021, habilitou-se a
bater o recorde do inesquecível Telê Santana que comandou o São Paulo por pouco
mais de cinco anos entre outubro de 1990 e janeiro de 1996.
Não é pouca coisa.
Vale lembrar que o cenário do futebol tupiniquim hoje em dia é muito mais
nervoso, muito mais instável do que há 30 anos. Treinadores são dispensados com
menos de 100 dias de trabalho e aproveitamentos de 64,1% como Domenec Torrent,
no Flamengo, ou até depois de disputarem um título brasileiro até a rodada
final, como Abel Braga, agora no Internacional, ou quase isso como Jorge
Sampaoli no Atlético-MG. Bastam duas ou três derrotas, um tropeço diante de um
rival num clássico e o nó da forca vai se apertando no pescoço dos comandantes.
Renato renovou seu contrato com Grêmio (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
Mas há ainda mais
diferenças entre a Era Renato e a Era Telê. Como o abismo econômico que separa
os clubes europeus dos brasileiros não para de aumentar, fica cada vez mais difícil manter um time base de temporada para
temporada. O êxodo é muito maior, quase incontrolável. De 2016 até hoje,
entre os principais jogadores do Grêmio, apenas
três, os zagueiros Kannemann e Geromel e o volante Maicon continuam a vestir a
camisa tricolor, um problema com o qual Telê muito menos teve de conviver
no São Paulo de seu tempo.
-> CBF define premiações para a Copa do Brasil 2021;
veja os valores
Renato se vira nos trinta para manter a competitividade de seu time. E sua
receita tem dois ingredientes: a base gremista, que revelou nomes como Everton Cebolinha, Arthur, Luan, Pedro Rocha e agora
Pepê, e a recuperação de jogadores descartados ou até encostados por outros
clubes, como Diego Tardelli, Léo Moura, Cortez, David Braz e Thiago Neves que
passaram pelo clube nos últimos anos. O próprio Diego Souza, atual artilheiro
do time, foi uma aposta do treinador, questionada no início por boa parte da
imprensa e da torcida.
'Renato e o Grêmio são
quase uma entidade única. Desde os dois gols do título mundial de clubes contra
o Hamburgo'
- Luiz Gomes
Renato e o Grêmio são
quase uma entidade única. Desde os dois gols do título mundial de clubes contra
o Hamburgo, nunca mais se libertaram um do outro, ainda que nem sempre
estivessem juntos. Essa é a terceira passagem pelo clube como treinador. E não
foram quatro anos de paz. Houve - como está acontecendo agora - momentos de
forte turbulência, como nas derrotas acachapantes para o Flamengo de Jorge
Jesus em 2019 e a fase atual em que as cobranças da torcida por resultados vêm
em um crescente. Mas o apoio - e o bom senso - da diretoria o levaram a passar
incólume por tudo isso.
Por tudo que já fez pelo clube, a estátua do Renato Jogador, que decora a
esplanada da Arena do Grêmio poderia muito bem ser (por que não?) uma estátua
do Renato Treinador. Afinal, com ele, só nessa passagem atual, o Grêmio se
livrou de uma fila de 15 anos sem títulos relevantes e foi sete vezes campeão
em oito finais disputadas, entre o tricampeonato estadual, a Copa do Brasil, a
Libertadores e as ré-copas sul-americana e gaúcha. Só perdeu uma decisão, o que
seria o bicampeonato mundial de clubes, contra o Real Madrid em 2017.
-> Quais são os clubes com os elencos mais valiosos
do Brasil? Veja!
Renato está longe de ser uma unanimidade. Pelo contrário, é amado ou detestado,
com ele não existe meio termo. Falastrão, polêmico, provocador, não raramente
se coloca do lado politicamente incorreto, defendendo causas indefensáveis.
Este é o seu jeito - sempre foi, por onde passou, na seleção – ironicamente sob
o comando de Telê – na Roma, ou em rivais como Flamengo e Fluminense, Cruzeiro
e Atlético-MG. Que se diga dele o que se quiser, mas com a bola no pé ou com um
time na mão, talento - e títulos - nunca lhe faltaram. Por lance.com.br
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