Sexta feira, 10 de fevereiro de2017.
Oriunda do futsal,
Antônia Silva participa da semana de treinos da seleção feminina de futebol.
Atleta é do município de Riacho de Santana, de apenas 4 mil habitantes.
Quando saiu a lista de
convocadas para participar da semana de treinos da seleção brasileira feminina,
Antônia leu o próprio nome e quase não acreditou. Instantaneamente, lembrou-se
da infância vivida no pequeno município de Riacho de Santana, localizado a 425
quilômetros de Natal e que tem apenas 4 mil habitantes, e da primeira vez em
que sonhou em se tornar jogadora de futebol. Aos poucos, compreendeu que o
sonho, agora, é real: aos 22 anos de idade, a atleta potiguar veste a camisa
verde e amarela pela primeira vez na carreira. Até sexta-feira, ela participa
do trabalho comandado pela treinadora Emily Lima na Granja Comary, em
Teresópolis.
- Chegar à seleção
brasileira é estar vivendo a realização de um sonho. Tive uma surpresa muito
grande com a convocação e estou ansiosa para jogar porque não era algo que eu
esperava nesse momento. Eu sempre estive no futsal, tive poucas chances no
campo e consegui chegar até aqui. Mas o futebol está dentro de mim. Sendo
futsal ou campo, a essência é a mesma - declarou por telefone.
Potiguar chega à Seleção Feminina e
diz estar vivendo
a realização de um sonho (Foto: Kin
Saito/CBF)
Sair de Riacho de
Santana, com cerca de 4 mil habitantes, e alcançar a seleção brasileira de
futebol é inexplicável para a atleta. Até receber o convite da equipe Valinhos
para participar da Copa Juventus em 2016, a carreira de Antônia estava restrita
ao futsal. Desde criança, ainda no município em que nasceu, a quadra foi o
ambiente que a atleta escreveu a própria história. Por isso, o salto das
quadras para a Seleção de campo é um espanto, mas positivo.
O primeiro contato com
o futsal foi durante as aulas de Educação Física. Antônia gostou do esporte,
passou a integrar a equipe de futsal feminino da escola de Riacho de Santana
para disputar os Jogos Escolares do Rio Grande do Norte e ganhou destaque na
competição. Foi nessa época, ainda criança, que recebeu o convite para jogar em
uma escola de Natal. Com o incentivo da família, passou a atuar também na
equipe feminina de futsal do ABC, com os professores Esmerino Análio e Izabel
Carla, e quase viu o sonho ruir devido às dificuldades encontradas no cenário
do Rio Grande do Norte.
- Quando eu jogava
pelo ABC, em 2009, só tinha a gente no estado com equipe de futsal. Não tinha
competitividade e a estrutura era pequena. Sabia que se eu ficasse aqui, as
coisas seriam mais difíceis. Foi então que eu decidi ir para São Paulo correr
atrás do meu sonho. Minha mãe mora aqui e isso facilitou a minha vinda. Eu
ainda estava no ensino médio e comecei a jogar pela escola - contou.
Antônia Silva traçou carreira no
futsal, mas conseguiu
alcançar Seleção no campo (Foto:
Arquivo Pessoal)
Em São Paulo, passou a
fazer parte da equipe de futsal da Portuguesa. Em 2011, foi para o São Bernardo
e no ano seguinte chegou a equipe de São José dos Campos, onde permaneceu até
2016. Foi então que surgiu o convite da equipe de Valinhos para atuar no
futebol de campo durante a Copa Juventus. Na competição, a jogadora ostentou a
camisa 10 da equipe e foi vice-campeã.
Ao rever os desafios e
os riscos que passou até o lugar que alcançou, a jogadora não se arrepende de
nada, mas lamenta a saudade que tem da maior parte da família, que mora no Rio
Grande do Norte.
- A maior dificuldade
que eu passei foi ficar longe da família. A estrutura aqui em São Paulo é bem
melhor que em Natal. Recebo bolsa, alojamento, tem muitos times competitivos...
É um cenário muito melhor. Mas a maior parte da minha família está no Rio
Grande do Norte. Se eu tivesse que falar algo para as meninas que estão
começando agora, diria para não desistirem do sonho, por mais que ele pareça
impossível - revelou.
A grande inspiração
Antônia Silva tem como
grande inspiração a jogadora Formiga, recém-aposentada na Seleção. As duas
jogam na mesma posição em campo, como volantes. Com 38 anos de idade, Formiga é
a única atleta de futebol a participar seis Olimpíadas e se destaca pela
dedicação e garra demonstrada durante a carreira. E é pela sua ausência na
Seleção que Antônia tem o único lamento diante de um passo tão grande na
carreira.
- A Formiga é minha
grande inspiração. Vejo que eu tenho uma força de vontade parecida com a dela,
que aguentou jogar seis Olimpíadas. A garra em campo, o posicionamento... Tudo
que ela faz acaba me inspirando como jogadora. É uma pena que ela tenha se
aposentado (na Seleção). Eu tenho o sonho de vestir mais vezes a camisa da
Seleção e queria muito jogar ao lado dela - disse.
Por Luiz Henrique* - Globoesporte.com/Natal
* Estagiário sob a supervisão de Augusto César Gomes.
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