Sábado, 04 de julho de 2015.
Apesar de a Globo
repetir em seu noticiário regular que "as empresas de mídia" não são
suspeitas no escândalo internacional de corrupção do futebol mundial, contratos
envolvendo a emissora e a CBF fazem parte do "pacote" de documentos
que está sendo investigados por agentes da Polícia Federal.
A reportagem do UOL
apurou que contratos assinados entre a TV e a entidade em anos passados serão
submetidos ao escrutínio de especialistas da PF. Trata-se, inclusive, de parte
da colaboração que o país vem fazendo com as investigações do FBI, que jogaram parte
da cúpula do futebol mundial na cadeia.
Cabe lembrar que até o
momento não recai sobre a Globo nenhuma suspeita, mas como sua relação com a
CBF, especialmente a gestão Ricardo Teixeira, foi e ainda é atávica, ela entra
no foco da investigação também.
A PF jamais comenta apurações em andamento.
Procurada pela coluna,
a Globo afirmou desconhecer qualquer investigação e não quis comentar. Já a CBF
afirmou que "a relação de quatro décadas do futebol brasileiro com a TV
Globo é um 'case' de sucesso". A entidade afirma ainda que está disponível
para prestar quaisquer esclarecimentos às autoridades.
A investigação
A PF quer entender
como funcionou a relação entre a gestão do ex-presidente da CBF Ricardo
Teixeira e o Departamento de Esportes da Globo.
Na TV aberta, a Globo
detém monopólio de transmissão dos principais torneios de futebol há quase 40
anos.
Em 2011, porém, a TV
Record fez uma ofensiva para comprar os direitos de transmissão do Campeonato
Brasileiro, cujo contrato anterior estava prestes a expirar.
Foi a primeira vez que
a Globo viu o rentável setor esportivo ameaçado por outra emissora.
A pedido da Record, o
Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) passou a investigar os
contratos do futebol e concluiu que havia uma ilegalidade: o órgão determinou
ao hoje finado Clube dos 13 --que sucedeu a CBF na negociação de direitos de
transmissão-- que fizesse uma licitação para definir quem teria direito à
transmissão de jogos do futebol brasileiro.
O Cade concluiu que o
modelo usado até então só beneficiava a Globo. Diante da inédita decisão, e
suspeitando que a Record poderia fazer uma oferta financeira superior à da
Globo, a CBF de Teixeira e alguns times, como Corinthians e Flamengo, agiram
nos bastidores e implodiram o Clube dos 13.
Agora sabe-se que quem
apertou o detonador foi Andres Sanchez, como revelou a coluna de Monica Bergamo, da Folha, no último domingo.
Mas ele não agiu só.
CBF, Globo e outros clubes se uniram para dar rasteira nas pretensões da
emissora de Edir Macedo. Com os times mais populares fechando acordo
diretamente com a Globo, o caso deixou a alçada do Cade. Em outras palavras,
com a negociação ponto a ponto, eles driblaram a licitação.
Com isso, o futebol
brasileiro continuou mais uma vez nas mãos exclusivas da Globo.
Rombo
A Globo não ficou
ilesa, porém. Sofreu grande perda de dinheiro. A negociação time a time
encareceu sobremaneira o preço do futebol. A tal ponto que, estima-se, a Globo
teve de gastar quase R$ 1 bilhão a mais do que gastaria antes do
"imbroglio" iniciado pela Record.
Teixeira acabou com a
imagem ainda mais prejudicada. Na verdade essa foi uma das últimas pás de cal
em seu reinado.
"Traição"
O apoio de quatro
décadas da CBF à Globo, porém, não impediu a emissora de noticiar os escândalos
envolvendo Teixeira e a Fifa, deflagrados ainda em 2011, poucos meses após a
complicada manobra que manteve o monopólio do futebol com a TV da família
Marinho.
Teixeira ficou
revoltado com o noticiário, que considerou uma "traição". Um ano
antes havia se gabado à revista "Piauí" de ser praticamente
inatacável pela Globo, e que só temeria qualquer denúncia "no dia em que ela saísse no 'JN'".
Outro lado - CBF
Procurada pelo UOL, a
CBF respondeu, por meio de sua Diretoria de Comunicação: "A relação de
quatro décadas do futebol brasileiro com a TV Globo, que envolve não apenas a
seleção brasileira, mas também os grandes clubes do país, é um dos maiores
cases de sucesso de parceria da história do futebol mundial.
Fonte: Uol
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