Sexta feira, 20 de março de 2015.
No comunicado de
imprensa, a entidade simplesmente não citou nem a receita e nem os lucros!
Não restam dúvidas: o
Brasil realizou a “Copa das Copas”, pelo menos para os cofres da Fifa. Dados
publicados nesta sexta-feira pela entidade revelam que o Mundial no Brasil
catapultou as contas da Fifa a valores considerados internamente como
“estratosféricos”. Enquanto isso, pelo menos seis dos doze estádios brasileiros
usados para a Copa estão com sérios problemas e a economia do Brasil chegou a
entrar em recessão.
O jornal O Estado de
S. Paulo havia revelado com exclusividade ontem quinta-feira que a renda da Copa
do Mundo do Brasil atingiu uma recorde, com US$ 4,8 bilhões (R$ 16 bilhões).
Apenas no ano passado, a renda atingiu a marca de US$ 2 bilhões. O valor chega
a ser US$ 800 milhões superior à renda na África do Sul e nem a crise mundial
foi um obstáculo para isso.
A Fifa tentou esconder
o valor de seus lucros. No comunicado de imprensa, a entidade simplesmente não
citou nem a receita e nem os lucros. Apenas indicou que o benefício foi
“superior ao que se esperava” e que o Mundial gerou “forte resultado
financeiro”.
Mas, no documento
oficial, o valor da receita total chega a US$ 5,7 bilhões, incluindo a
bilheteria dos estádios e outros eventos. No período entre 2011 e 2014, os
lucros foram de US$ 338 milhões. “Temos uma situação financeira sólida”, disse
Markus Katner, diretor financeiro da Fifa.
Para a Copa de 2014 e
a Copa das Confederações de 2013, a Fifa acumulou não apenas os contratos de
televisão e de marketing, mas também somou US$ 500 milhões da bilheteria, desta
vez nas mãos da entidade. A Fifa também ganhou mais US$ 60 milhões com as
vendas de pacotes pela empresa Byron.
Ao contrário do que
ocorreu nos últimos Mundiais de 2010 e 2006, o dinheiro dos ingressos foi
administrado e recolhido no Brasil diretamente pela Fifa. Por meses, a entidade
rejeitou pedidos do governo brasileiro para que estudantes e idosos tivessem
benefícios.
No total, a fortuna
nas reservas da Fifa hoje chega a US$ 1,5 bilhão, acima do PIB de pelo menos 20
países no mundo. Em 2006, as reservas eram de apenas US$ 600 milhões.
Distribuição
No geral, os lucros da
Fifa chegaram a sofrer uma queda em 2014. Mas não por falta de dinheiro e sim
diante da decisão de seus cartolas de aumentar seus salários e distribuir
recursos entre as federações. Blatter concorre a mais um mandato no comando da
Fifa e o “presente” aos eleitores foi amplamente apreciado.
Dirigentes europeus
chegaram a atacar a medida adotada por Blatter. “Essa não é a forma de se
proceder”, indicou um dos cartolas. No final de 2014, numa carta inesperada por
muitos, a Fifa comunicou que estava enviando como bônus mais US$ 300 mil a cada
uma das 209 federações nacionais, sem motivos.
Salários
Mas não é só a
generosidade que marca a entidade depois das contas no Brasil. Os dados revelam
que, em salários, a Fifa distribuiu US$ 110 milhões a seus funcionários e
cartolas. O valor é duas vezes maior que o que foi dado em 2008 em salários,
bônus e outros pagamentos.
A Fifa não especifica
quanto foi destinado ao presidente Joseph Blatter ou ao secretário-geral da
entidade, Jérôme Valcke.
Os números contrastam
com o dinheiro que a Fifa deu ao Brasil, sede da Copa e onde não se cobrou
impostos da Fifa. A entidade criou um fundo para ajudar o futebol nacional e
enviará ao longo dos próximos anos um total de US$ 100 milhões (em torno de R$
331 milhões).
O primeiro projeto
está sendo realizado em Belém e, nos próximos anos, iniciativas para construir
centros de treinamentos e instalações vão ser implementadas pelo País.
A contribuição foi
destacada por Blatter e Valcke como uma prova de que parte da renda da Copa do
Mundo voltaria ao Brasil. Em novembro de 2014, Valcke indicou que o fundo
criado para o Brasil seria “uma excelente plataforma para distribuir os
benefícios de uma Copa inesquecível”. “Como na África do Sul e no Brasil, é
nosso objetivo usar as próximas Copas do Mundo para promover um desenvolvimento
sustentável do futebol nos países sedes”, disse.
O que não revelou é
que os maiores beneficiados dessa explosão na renda seriam eles mesmos, com
maiores salários e mais funcionários. Depois da Copa do Mundo, a economia
brasileira entrou em recessão. Para 2015, a previsão é de uma estagnação. O
real disparou e até o desemprego aumentou em algumas regiões.
Quanto aos estádios,
pelo menos seis deles sofrem para pagar suas contas, estão fechados ou servem
para receber escritórios do governo, como em Brasília.
Enquanto a Fifa nada
em dinheiro, o Tribunal de Contas da União indicou que, no total, as renúncias
na arrecadação de impostos no Brasil foram de R$ 1,1 bilhão (R$ 3,6 bilhões)
diante do acordo de que a entidade máxima do futebol não pagaria impostos pela
Copa do Mundo.
Gastos
Se os números deixaram
os cartolas mais ricos, a ordem foi a de não revelar os dados em um comunicado
de imprensa. A Fifa apenas disse que destinou desde 2011 cerca de US$ 1 bilhão
a projetos esportivos.
Cada uma das 209
federações recebeu US$ 1 milhão, enquanto as confederações regionais ficaram
com US$ 7 milhões. No total, US$ 261 milhões foram usados nessas
transferências.
Seleções receberam
ainda US$ 476 milhões da renda da Copa, contra US$ 158 milhões para clubes que
emprestaram seus jogadores ao Mundial. No total, a entidade gastou US$ 2,2
bilhões para organizar o evento.
Fonte: O Estadão.
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