DOMINGO, 04 DE MAIO DE 2014.
Estádios foram construídos para o evento. Gastos bilionários
foram feitos pelo governo. Enquanto isso Educação, Saúde e Segurança vivem à
míngua.
Joanesburgo, maior
cidade da África do Sul, viveu por anos a expectativa de melhoras na condição
de vida da população, com a realização da primeira Copa do Mundo no Continente
Africano, em 2010. Quatro anos depois,
no entanto, o país enfrenta problemas, como o endividamento público e estádios
ociosos, de acordo com o jornalista sul-africano Niren Tolsi.
Ele conta que as duas
arenas construídas para receber partidas do Mundial, o Ellis Park Stadium e o
Soccer City, estão subutilizadas. O último recebe atualmente mais atividades
musicais e políticas do que partidas de futebol.
Tolsi veio ao Brasil
para participar do Encontro dos Atingidos – Quem Perde com os Megaeventos e
Megaempreendimentos, em Belo Horizonte.
O jornalista relata
que os moradores esperavam que a preparação para a Copa projetasse Joanesburgo
internacionalmente e proporcionasse mudanças na infraestrutura urbana, com o
alargamento de estradas e a multiplicação de opções de transporte coletivo.
As obras de mobilidade
feitas no país à época são úteis para a população. Porém, o Mundial foi marcado
também por denúncias de corrupção na construção dos estádios, deslocamentos
forçados de famílias, aumento da repressão policial e expulsão de moradores de
rua e de vendedores ambulantes das áreas centrais de Joanesburgo, segundo o
jornalista.
“A Fifa foi embora com
R 25 milhões [R é o símbolo de rand, moeda oficial da África do Sul] de lucro e
o país ficou endividado”, lamentou.
Tolsi vê semelhanças
entre os problemas apontados pelos movimentos sociais no Brasil e o que
ocorreu, há quatro anos, em seu país. Com a mobilização dos movimentos sociais
e populações atingidas pelos grandes eventos, ele espera que “essa lógica mude
e que a Fifa tenha que parar de agir em outros países, como faz hoje,
trabalhando a favor das corporações, colocando em questão a soberania
nacional”.
O Mundial na África do
Sul também não aqueceu o mercado de trabalho, como previsto, por causa da crise
financeira que abala a Europa, de onde sairiam muitos dos turistas que o país
esperava receber em 2010.
Não somente na África
do Sul, a população ficou desapontada com o legado deixado por grandes eventos.
A ativista grega Chará Tzouna avalia que os empréstimos tomados para a
realização das Olimpíadas de 2004 intensificaram o problema econômico que o
país já vivenciava. “Há 30 anos, já tomavam empréstimos para viver. Nas
Olimpíadas, criaram mais empréstimos para construir edifícios e estádios, que
não conseguem se manter. Além das dívidas, ficamos com elefantes brancos”, diz.
Para Chará Tzouna, a
organização popular foi um dos pontos positivos do evento esportivo. “Houve o
crescimento da participação e da organização política. As pessoas estão
tentando recuperar espaços públicos que foram privatizados ou que estão
inativos”, disse.
Fonte: Agência Brasil
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