domingo, 22 de dezembro de 2013

Futebol do RN - Após dispensa, Ruy Cabeção detona clube potiguar: "Decepcionado"

DOMINGO, 22 DE DEZEMBRO DE 2013.
Sem receber salários há quase três meses, treinando em campos sem condições de jogo, sofrendo com a falta d'água nos vestiários, sem comida adequada no alojamento do clube... Ruy Cabeção cansou. Bateu a indignação no jogador contratado pelo Alecrim no início de 2013 com status de estrela do Campeonato Potiguar. Após quase um ano em Natal, ele foi informado nesta semana que estava fora dos planos do clube e se diz decepcionado com o tratamento dado pelo presidente do Verdão e principal investidor da equipe, o inglês Anthony Armstrong-Emery. Para o jogador, o empresário precisa arcar com os compromissos financeiros firmados, já que o contrato do atleta foi renovado até 2016.
Ruy Cabeção, jogador de futebol (Foto: Jocaff Souza) 
Ruy Cabeção lamenta desgaste em acerto sobre sua saída
do Alecrim (Foto: Jocaff Souza)
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, o experiente volante mostrou-se triste com o episódio e relatou que assinou com o Alecrim depois de rejeitar propostas de outros clubes brasileiros, por acreditar no projeto de reestruturação do Verdão potiguar, que utilizaria sua imagem a favor do marketing do clube. Eu faria um ano de clube em janeiro e, nesse tempo, tudo o que me foi mostrado e prometido ainda não aconteceu. A gente não sabe o dia de amanhã e da mesma forma que ele (Anthony) me prometeu, as coisas ainda podem surgir. Eu vesti a camisa do Alecrim, principalmente, por querer ajudá-lo. Mas fiquei decepcionado com a demora. Cansei de ligar para os telefones dele, mas infelizmente é impossível falar com ele. Eu nunca passei por isso na minha vida - lamentou o jogador. O volante disse que enfrentou situações difíceis junto aos companheiros, porque ouvia as reclamações dos demais atletas e acabou servindo como um “porta-voz” do grupo junto à comissão técnica e aos diretores. Como o atraso salarial atingiu todos os jogadores, inclusive os atletas do sub-20, Ruy chegou a ser mal visto no grupo, pois pensavam que ele recebia os vencimentos em dia. Eu fui até acusado por alguns jogadores do grupo porque eles achavam que o meu salário estava em dia, justamente porque eu era contra certos tipos de comportamentos, principalmente com relação à greve, que era um tema muito forte entre todos. Eu fui contratado para ajudar o pessoal da empresa patrocinadora a reestruturar o futebol do clube e meu telefone não parava de tocar com as ligações dos meninos (jogadores), por questões complicadas na Casa do Atleta, a respeito da falta de pagamento da conta de energia ou em relação aos jogadores que moravam em apartamentos e estavam com os alugueis atrasados - explicou. Segundo Ruy, as instalações eram “péssimas” no alojamento que recebia parte dos jogadores profissionais e dos atletas da categorias de base. Com o atraso nos salários dos demais funcionários do clube, as cozinheiras e os funcionários da limpeza pediram demissão. Para o jogador, as condições no clube eram piores do que em clubes amadores. Precisamos ter respeito aos clubes amadores, porque, quando a gente pensa em amador, vem na cabeça uma coisa abaixo do nível normal. Nós jogadores não tínhamos bolas nem roupa limpa para usar. Nos treinamentos, não havia médico nos acompanhando - criticou.,
À espera de uma resposta
Ruy Cabeção esteve por duas vezes esta semana no escritório da empresa patrocinadora do Alecrim. Para auxiliar nas conversas, o advogado do atleta, Antônio Sérgio Figueiredo Santos, veio de Belo Horizonte e afirmou que nunca havia presenciado um desrespeito tão grande com um jogador de futebol, principalmente com uma carreira de reconhecimento nacional. Segundo o advogado, a intenção é manter um diálogo com a diretoria do clube para que haja um acerto amigável entre as duas partes. Caso contrário, a situação deverá ser resolvida  na justiça. Fiquei estarrecido com o tratamento dado ao Ruy. Fomos por duas vezes ao escritório da empresa do presidente e sequer fomos recebidos pela diretora, que é filha do presidente do clube. É uma situação constrangedora para um trabalhador ter que ficar tomando um 'chá de cadeira' para aguardar uma resposta e ela não aparecer - contou. Ruy contou que passou quase 10 horas sentado na recepção da empresa, na última terça-feira, à espera de uma resposta. Na quarta-feira, tiveram um encontro com o advogado que representa a empresa e, mesmo assim, não obteve uma resposta. Na empresa, fui tratado de uma forma desrespeitosa, porque um trabalhador que chega às 11h e sai às 19h30 para reivindicar apenas uma coisa que é de direito, que é o salário... O que fiz no clube já foi feito, a patrocinadora que arque com as suas consequências. Quando passei por outros clubes, eu saí com as portas abertas. Dessa vez, se for necessário, eu e meu advogado iremos à justiça - afirmou.
clube tenta reconciliação
Washington Fernandes, vice-presidente do Alecrim (Foto: Jocaff Souza)Washington Fernandes falou em nome do
Alecrim (Foto: Jocaff Souza)
De acordo com o vice-presidente do Alecrim, Washington Fernandes, os repasses financeiros da empresa que patrocina o Alecrim, que são de origem estrangeira, atrasam devido ao valor elevado das transferências, já que todo o dinheiro precisa ser declarado de forma precisa, conforme exigências da legislação brasileira. O dirigente disse que os vencimentos em atraso dos jogadores devem ser regularizados até a próxima semana. Estamos conversando sempre com a patrocinadora para que ela credite até o início da semana e tudo esteja em ordem. Como eles trabalham com dinheiro internacional, às vezes essa viabilização leva tempo. Já colocamos em dia, no mês passado, uma boa parte dos vencimentos e esperamos que até a próxima sexta-feira, esteja tudo em ordem, pela promessa que ele fez e as remessas que a empresa fará - falou. Sobre a saída de Ruy Cabeção do elenco, Washington acredita que falta um diálogo mais próximo entre a direção do clube eu próprio jogador. Ruy ainda é atleta nosso, não houve distrato. Então, se ele tomar uma posição que seja favorável continuar conosco e derem certo as negociações, é de pleno prazer tanto da torcida quanto do conselho, porque Ruy é um atleta que faz jus à imagem que ele tem junto ao público. O Alecrim preza muito que seja satisfatório para os dois lados, principalmente pelo carinho que a torcida tem com o Ruy e o próprio conselho do clube e a diretoria, que gostam muito dele tanto como atleta como pessoa. É louvável que as coisas terminem num bom senso - almeja.
'Vou jogar por mais três anos'
Apesar de enfrentar uma situação de atraso salarial e de ser dispensado pelo Alecrim por conta dos altos salários, Cabeção disse já ter propostas de outros clubes do país. Segundo o jogador, a ideia é voltar a atuar em Minas Gerais, terra onde nasceu, para estar mais próximo à família e aos amigos.
Ruy Cabeção, jogador de futebol (Foto: Jocaff Souza) 
Com 35 anos, Ruy Cabeção quer jogar mais três temporadas
(Foto: Jocaff Souza)
O jogador adiantou que recebeu um contato de um time do interior mineiro e que pretende resolver a pendência financeira com o Alecrim o mais rápido possível para voltar a jogar futebol. A ideia é jogar bola por mais três anos ou até as pernas “aguentarem”. Eu vou seguir meu caminho e graças a Deus, existem pessoas competentes para me ajudar na carreira e me livrar dessa situação o mais rápido possível. Mas meu projeto no futebol continua. Minha ideia é jogar por mais três anos até minhas pernas aguentarem. Quero saber delas depois desse tempo eu ainda seguirei no futebol. A partir do momento em que não tiver condições de jogar, eu vou parar - concluiu o jogador.
Por Natal

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