domingo, 8 de fevereiro de 2009

MARINHO CHAGAS, UM POTIGUAR CONHECIDO MUNDIALMENTE.


Em junho de 2007, Marinho Chagas desfiou um pouco de sua vida e histórias à Memória do Esporte. ‘‘Sua ascensão foi rápida feita um foguete - um dia estava batendo umas ‘peladas’ no Alecrim, e de repente estava na Seleção Brasileira, número 6 às costas, em meio a uma Copa do Mundo. Tanto aprontou na lateral esquerda que ganhou até certo reconhecimento internacional’’, assim começava o texto sobre ele, resultado da entrevista a Rogério Torquato ‘‘Blau’’ e Ribamar Cavalcante à época. Mas, em se tratando de Marinho, é pouco. O homem viu tanta coisa da Redinha à Seleção Brasileira que o ajuntado renderia um livro. Agora ele contou mais uns trechos de sua história na Rádio Clube AM, diante de Marcos Trindade, Jorge Aldir e Pedro Neto. Tanta coisa que não dá para uma página só.
‘‘Minha vida é simples, humilde. Para mim os mais fortes são os mais fracos’’, principiou, preparando as malas para tomar o rumo da Europa, a fim de apresentar lá um jovem talento de sua região - palavra de Marinho, que anunciou estar abrindo um centro esportivo para crianças carentes, com gente que entende do assunto. Na hora, lembrou dos clubes (e de empresários) que têm contratado adolescentes cada vez mais novos. ‘‘Quando você completa 16 anos e assina com um clube, você passa a não ter nada mais com seu pai ou sua mãe, você passa a ser do clube’’, lembrou.
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O escolhido de Nilton Santos!
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Para se dar uma idéia, Marinho aprontou tanto na carreira que foi incluído nas Seleções do Século do São Paulo, do Náutico, do Fluminense, do ABC e do Botafogo. Basta dizer que Nilton Santos, a ‘‘Enciclopédia do Futebol’’, escolheu o homem da Redinha para a Seleção do Século do Botafogo -
‘‘Quando fizeram a Seleção, Nilton Santos pediu meu nome na lista, que eu fosse lateral esquerdo. Ele pediu, queriam colocar Leônidas como quarto-zagueiro! Aí colocaram (na linha de zaga) Leônidas, Nilton Santos, eu na lateral esquerda e Carlos Alberto na lateral direita’’.
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Imprensa tem que ser respeitada!
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O ‘‘Diabo Louro’’ do futebol nacional estranha o tratamento que alguns atletas de hoje dão à imprensa. Garante, no seu tempo a coisa era um pouco diferente - ‘‘Eu tratava a imprensa de qualquer maneira, dentro e fora do campo. (Os jornalistas e radialistas) Iam lá em casa, me visitar...’’ Por vezes as entrevistas se desenrolavam em horários inusitados. ‘‘3 da madrugada, ‘Marinho, quero um furo de reportagem seu: é verdade isso?’ Eu acordava, levantava, botava café, um negocinho... Dava entrevista.
Muitas vezes Washington Rodrigues foi lá em casa, o Orlando Batista e o filho dele, o Jorge Curi, o próprio ‘Garotinho’ (Osmar Santos) que estava começando na Rádio Nacional... ’’. Fica doente quando aparece algum jogador mais destacado um pouquinho que ‘‘bota banca’’. Não lhe entra na cabeça tal tratamento. ‘‘Nunca neguei nada à imprensa porque o nome que tenho... digo para esses jogadores de futebol, esses profissionais de ABC, América e outros clubes: você não deve botar banca com a imprensa, porque o nome de vocês depende da imprensa. Mas é claro que existe o patrocinador, o presidente do clube que fala... em consideração ao clube, é um repórter, um comentarista, (então) ele fala ‘daquele’ atleta obrigado, porque às vezes a pessoa (o atleta) trata mal: entrevista depois do treino, cansado, ‘Ah, depois eu dou a você a entrevista’.

Meu amigo, não existe cansaço para uma pessoa que quer saber uma pergunta só: como é que foi o treino? Está machucado? Vai jogar?’ E às vezes até (o atleta) cobra para dar uma entrevista! E não é só aqui no estado, é em todo o Brasil’’. E arrisca uma explicação para tal - ‘‘Tenho pena, porque esses caras só têm nome por causa da Seleção Brasileira’’.
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É proibido não jogar pelo Brasil!
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Falando na Seleção, outra coisa que não entra na cabeça de Marinho nem partindo o quengo em banda é jogador se recusando a jogar pelo Brasil. Impensável. ‘‘Tem gente que me dá até vergonha, acho até que o Governo Federal deveria até cassar, não caçar (a vida), é pegar seus bens e ver, porque o cara negar... ‘Não, não quero mais ser convocado para a Seleção Brasileira’... ’’.
Lembrou da emoção que teve quando foi convocado pela primeira vez, em 1973. Na ocasião, nem acreditou, quase teve um troço. ‘‘Zagallo (Mário Jorge Lobo Zagallo, técnico das seleções de 1970 e 1974) dando a escalação, eu ouvindo o rádio... meu coração parecia até que ia explodir se meu nome ia sair ou não... a imprensa dizia ‘Você vai ser convocado, será reserva de Marco Antônio’, e eu não acreditava, pois tinha Rodrigues Neto, Marco Antônio, Alfinete (do Vasco), Bezerra (do São Paulo), Vacaria (do Internaional-RS), um monte de laterais bons, e eu estava chegando ao Botafogo, estava começando ainda. E aí, ‘... Marinho, do Botafogo!’. Emocionei-me, chorei".
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As circunstâncias do contra em 78 e 82!
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Marinho poderia ter participado de mais duas Copas do Mundo - a de 1978 e a de 1982. As circunstâncias não ajudaram, paciência. O homem começa por 1982: teve tudo para ir à Espanha, mas acabou ‘‘mofando’’ no Brasil. ‘‘Me decepcionou muito o Telê Santana, pois eu fui lateral esquerdo do ano pelo São Paulo, bicampeão paulista, vice-campeão brasileiro, Bola de Prata pela (revista) Placar... Todo mundo sabe que eu seria titular, mas quatro pessoas me tiraram da seleção’’ - por favor, nada de nomes, tem gente que não merece! - ‘‘Chegaram para Telê e disse ‘Marinho não vai querer ser reserva de Júnior, e vai ter aquela confusão dentro da Seleção...’ Ao contrário, eu estava mais experiente e tranqüilo. Só em ser convocado, ficar no banco... Quem ia dizer (quem seria titular) era o treinador, o treino é que ia dizer!
’’Põe a história a seu favor. ‘‘Foi o que aconteceu com Marco Antônio, quando fui para a Seleção em 1973. Todo jogo dos reservas, o gol era meu, gol de falta, de pênalti, jogando... Titular 2 x 1, gol dos reservas de Marinho... aí Zagallo me chamou para titular obrigatoriamente, porque mostrei no capo, na bola, e na minha estreia no Maracanã: contra a Tcheco-eslováquia, fiz 1 a zero, gol meu, com 220 mil pessoas, aos 45 minutos do segundo tempo’’.
E em 1978? Ali - digamos - a trairagem foi grande. ‘‘Na época, fiz 28 gols pelo Fluminense. Aí fui para uma copa em Goiás... Fui artilheiro do Torneio, e Sebastião Araújo (não se sabe se é falecido; assistente de Coutinho, então técnico da Seleção) disse ‘Marinho tá voando’, e ele (Coutinho) disse ‘Não, vou levar Edinho’ ’’ - Edinho, aliás, improvisado na posição. ‘‘São essas coisas que acontecem no futebol...’’ E destas, qual foi a maior decepção? ‘‘As duas. Modéstia à parte, eu era para ter jogado no mínimo três Copas do Mundo. Primeiro, eu me cuidava, não bebia ...’’
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Noitadas?
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Beber - ou não - eis a questão. ‘‘Eu não bebia!’’, garantiu. Pergunta da imprensa: só na Seleção? ‘‘Nem nos clubes. Vim beber depois dos 35 anos!... Eu gostava de boate e de mulher. Até hoje. Minha bebida de boate, por incrível que pareça, era menta’’ - e havia um motivo curioso para tal - ‘‘porque ficava o gosto doce na boca, e as mulheres gostavam de menta ...’’
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O que lembra outro aspecto: as noitadas. ‘‘Acho que muitos fizeram o que eu fiz, só que não tiveram a personalidade de mostrar, faziam escondidos; e eu fazia na frente, e faço até hoje. Dou valor a essas pessoas que mostram sua personalidade, sua virtude. Acho que minha riqueza, poucas pessoas devem ter, é o espírito’’, cortou.
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Histórias dos gramados não têm fim!
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Voltemos aos gramados. Certo, Marinho era lateral. Mas a influência das peladas em Natal - onde muitas vezes esteve no ataque - foi muito forte. E quando menos se esperava, lá estava Marinho infernizando os adversários. Os primeiros a sentirem isso na pele foram os gringos.
‘‘Na época que joguei (na Seleção), Zagallo disse ‘Não avance muito, porque só temos um cabeça-de-área’’, e não só Zagallo; no Botafogo mesmo, quando cheguei para estrear... Estreei contra o Benfica (Portugal) (em um torneio na cidade de Carranza) na Espanha’’.
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Lá vem história. ‘‘Viajei numa segunda-feira de Recife para o Rio, cheguei de meio-dia no Rio. Aí o Tim, o ‘Raposa’ (já falecido; técnico do Botafogo na ocasião) me pegou no (Aeroporto) Santos Dumont, e disse ‘Garoto, você viaja quarta para a Espanha. É sua estréia, você vai jogar contra o Benfica e marcar Jordão, um dos maiores ponta-direita de Portugal’... Era um timaço o de Portugal, era o Benfica, peguei esse cara, peguei a bola e...’’ Peeeeeegue, Jordão!
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‘‘Disseram ‘Esse Jordão é muito rápido e perigoso, é o artilheiro do Benfica, você tem que ficar plantado’, mas quando eu pegava na bola, partia pra cima do Jordão... Eu era centroavante aqui em Natal, nas peladas, e tinha facilidade de driblar’’. Pior para o patrício. ‘‘Eu dizia ‘me dá a bola’ ‘Tá doido?’ ‘Me dá a bola, rapaz!’ e me davam, e aí eu partia pra cima do ponta, pra cima dele.

Dei logo um drible nele e saí jogando, ele veio atrás de mim, driblei outro cara... E o treinador do outro time disse ‘Segura o galego!’ Aí comecei a atacar, atacar e o Botafogo sempre entrando bola do meu lado, o lado do Valterci era mais marcador, então (Tim dizia) ‘Bote em cima dele e deixe avançar; Carlos Alberto, você, de posição, não suba, fique na cobertura de Marinho; e Nei, fique na posição de Carlos Alberto, por você ser mais habilidoso no meio’.
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Final, 1 a zero, gol de Jairzinho. Aí fomos para a final contra o Bayern de Munique, com Beckenbauer, Gerd Muller, Vogts, Sepp Mayer, a base da seleção daquela época, e fomos campeões’’.
Resultado da ousadia: foi preciso o Botafogo, digamos, se adaptar a Marinho. ‘‘Depois que voltamos, Tim disse ‘Tem jeito não de esse galego marcar.
Deixa-o do jeito que ele quiser, vamos fazer o esquema do Botafogo ... ’ Quem reclamava muito (com isso) era Carlos Alberto, baixinho... Depois contrataram Dirceu Guimarães, Dirceuzinho (já falecido), do Paraná, que tinha a característica de Zagallo (que, antes de técnico da Seleção Brasileira, jogou como lateral), já para fazer a minha cobertura. Diziam ‘Dirceu, você ataca, mas não chuta como Marinho, não ‘bate com as duas pernas’.. Você só sabe marcar a fazer feijão-com-arroz...’ Com essa minha ousadia, hoje me sinto feliz’’.
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Hoje seria muito mais fácil jogar!
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Dado que o assunto descambou para a característica de um lateral, Marinho deixou escapar um segredo seu. ‘‘Essa bola moderna, se era naquela época, seria muito mais fácil para mim. Quando eu ‘puxava’ para meio, então, eu ‘pegava de três dedos’ e quando eu batia (a bola) fazia aquela curva natural por causa do ângulo. Quando eu ‘puxava’ tinha que bater: se eu bato no meio da bola, ela ia para a lateral, e de três dedos, curvado, ela fazia a curva e o goleiro já ia lá do outro lado ...’’
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Quem não sabe fica sabendo: Marinho, lateral esquerdo, era destro, chutava com o pé direito, exigindo tais detalhes. E assim, fez muito gol com a ajuda de Dirceuzinho. ‘‘Ele dava (a bola) para trás, eu vinha correndo e batia de três dedos ...’’

Fonte: Diário de Natal.
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OUTRAS INFORMAÇÕES DESSA ENCICLOPÉDIA DO FUTEBOL.

Nome: Francisco das Chagas Marinho
Nascimento: 08/02/1952
Local: Natal (RN)
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Clubes em que jogou:
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Riachuelo (RN) (1968);
ABC (RN) (1969 a 1970);
Náutico (PE) (1970 a 1972);
Botafogo (RJ) (1972 a 1976);
Fluminense (RJ) (1977 a 1978);
New York Cosmos (USA) (1979);
Ft. Lauderdale Strikers (USA) (1980);
São Paulo (SP) (1981 a 1983);
Bangu (RJ) (1983);
Fortaleza (1984);
América (RN) (1985);
Los Angeles Heat (USA) (1986 a 1987);
Harlekin Augsburg (ALE) (1987 a 1988).

HISTÓRICO NA SELEÇÃO BRASILEIRA

Copas do Mundo:
7 jogos , 3 vitórias , 2 empates , 2 derrotas
Pela Seleção Brasileira:
36 jogos , 24 vitórias , 9 empates , 3 derrotas , 4 gols

TÍTULOS

Copa Rio Branco (1976);
Copa Rocca (1976);
Taça do Atlântico (1976);
Torneio Bicentenário de Independência dos Estados Unidos (1976).

COPA DISPUTADA

1974 na Alemanha.

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